E se for a subida do Cláudio ao poder?

A Região Austral de África vive dias de euforia, pois os maus da fita, invariavelmente, chefes de Estado e demais políticos já são contestados abertamente e, como vimos no Zimbabwe de Mugabe, destituídos.

Na vizinha África do Sul, vozes críticas que apelam à destituição de Jacob Zuma já partem do interior do seu partido, Congresso Nacional Africano (cuja sigla em inglês é ANC). Não tarda, em nossa opinião, que caía, ou por desgaste individual ou empurrado pelos correligionários.

Em Angola, João Lourenço recém-empossado, em Setembro, conforme os relatos da media, está numa expurga as estruturas do antigo regime comandado por José Eduardo dos Santos – que construiu uma oligarquia as custas dos dividendos do Estado.

A sequência destes três acontecimentos parece escrita nas páginas de história ou da criação de um escritor.

Entretanto, Hamlet nos recorda que René Descartes tinha razão quanto a dúvida metódica.

Este outro personagem trágico de William Shakespeare, Hamlet, era filho de rei. Seu pai foi morto por envenenamento, numa taça de vinho, pelo seu irmão Cláudio, que depois tomou o trono.

O novo rei nada tinha, pelo menos conforme a peça de teatro, como projecto inovador para o reino da Dinamarca, que é onde o enredo se desenvolve. E até casou-se com a viúva.

Amanhã toma posse o novo presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwana, antigo vice de Mugabe. Sem nenhum exercício, observa-se que até bem pouco tempo ele era próximo do Presidente deposto, o que, inevitavelmente, leva a questionar até que ponto traz propostas novas e democráticas?

Ao que se sabe, as suas desavenças atingiram o clímax quando o antigo Chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas – categoria atribuída pela conturbada constituição de 1987 – o encostou do poder, de forma a, em teoria, dar lugar a sua esposa, (dis) Grace Mugabe, na candidatura à presidência do país e do partido no poder – ZANU PF.

Pesam sobre Mugabe acusações sobre a forma como ele repelia a oposição no país, a gestão desastrosa da economia zimbabwiana, a recusa da clara victória, nas eleições de 2008, de Tsvangirai. Sem nunca esquecer do isolamento ao qual o seu regime foi submetido a nível internacional, tornando, dessa forma, o país irrelevante no xadrez das relações internacionais.

Na peça foi preciso muita cautela para se provar que Cláudio não era o bom da fita como pensava toda a corte e demais súbditos.

A semelhança de Harari, em Luanda assiste-se, como já antes referimos, a uma série de acções, para muitos, inesperadas. Mas, mais uma vez, é um dos membros da mesma elite que afogou o país num lamaçal de pouca dignidade.

Tanto João Lourenço assim como Emmerson Mnangagwana são parte do sistema que agora se aplaudem as derrotas, pelo que…

O futuro nos dirá. Oxalá, não se trate de nenhum Cláudio.

lEONEL2

Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.

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