Um abraço às artes e à democracia!

NA semana passada o país assistiu ao lançamento do último livro da trilogia “As Areais do Imperador”, do escritor Mia Couto. O evento contou com a presença do Chefe do Estado, Filipe Nyusi, numa atitude que pode ser interpretada como um sinal de abertura às artes, ainda que, as mesmas possam ser o celeiro de vozes diferentes e críticas.

Assumindo que, de certa forma, a trilogia, com recurso a dados históricos – tanto na versão nacional, assim como portuguesa – reconstrói, de forma ficcionada, aquilo que foi a vida do imperador de Gaza, Ngungunhane, considerado um dos maiores heróis da resistência contra a invasão colonial. De alguma forma, ainda que ficcionada – até porque não se descarta alguma “criação” na história oficial – este trabalho não deixa de constituir um questionamento à grandeza do último monarca da dinastia Dlamini.

O gesto do Presidente da República é, neste contexto, a aceitação, como disse no seu discurso de tomada de posse, da possibilidade de ideias diferentes, desde que a finalidade seja a construção de um país para todos.

Naturalmente que, em alguns corredores e em “voz bem baixinha”, deve estar a comentar-se – nalguns casos com malícia – que “é só porque é Mia Couto”. Porém, ainda que assim fosse – não nos posicionamos – de algum ponto tinha de se começar. Há sempre que dar o primeiro passo. E nós, como sociedade, devemos dedicar-nos a análises mais desprovidas de paixões e crenças quando a discussão é a esse nível.

A ilação que tiramos desse gesto do Presidente Filipe Nyusi é de uma inversão discursiva e de atitude, tendendo mais para o fomentar de uma democracia a sério, em que não importa de quem seja a ideia e qual seja, desde que contribua para o bem comum, será sempre bem-vinda.

Por outro lado, se este gesto começa justamente da literatura, que é um dos géneros artísticos que mais contribui para a construção de uma sociedade crítica e, mais do que isso, num contexto em que o país se queixa da qualidade da educação, o que se evidencia naquilo que se escreve – isto inclui estudantes do médio e superior – ilustra que direcção se pretende dar ao país e que tipo de referências se pretende oferecer a esta nação que ainda está em obra.

Evidentemente que a nossa expectativa é que esta acção se replique na máquina governativa liderada por Filipe Nyusi. Não se espera, é claro, que apenas participem em lançamentos de livros, mas que estejam mais activos e engajados para com as artes.

Por outro lado, espera-se que esta abertura para vozes questionadoras do status quo tenha cada vez mais luz no centro do palco.

lEONEL2

Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.

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