Ubuntu: uma mensagem de esperança

Inta Mutlhangela” é um hino cristão de louvor ao criador disto tudo. O ntsutsu da canção é: como irei lhe agradecer pelas bençãos Senhor Deus?

Deste jeito, com vozes distantes, de crianças brincando, se introduz o saxofone de Ivan Mazuze, que segundos depois é encaixado pelos pratos da bateria que o acompanha até cruzar-se com o piano que gradualmente vai se impondo, enquanto o sopro de Mazuze se mantém constante.

Distribuídos os ingredientes sonoros, a música vai desaguando no ouvido e traz consigo memórias de infância, cheiros de igreja, leva a passear por uma infinidade de lugares. Tudo isto em jeito de “buyanine” ao seu mais recente álbum, Ubuntu.

Ubuntu é uma palavra de origem Zulu e Xhosa, muito usada por Mandela e discutida pelo arcebispo anglicano, sul africano, Desmon Tutu.

Segundo Tutu, autor de uma teologia ubuntu: “a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade”.

Noutra perspectiva, da filosofia africana, Ubuntu quer significar humanidade com os outros. O conceito tem a sua essência no ser humano e a forma como se comporta em sociedade.

Ubuntu pode ser entendido como a capacidade humana de compreender, aceitar e tratar bem o outro.

Seus sinônimos são a generosidade, solidariedade, compaixão com quem precisa, o desejo sincero de felicidade e harmonia entre os homens.

Louw (1998), enfatiza, assentado na máxima Zulu: umuntu ngumuntu ngabantu (uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas), que o termo pode ter uma conotação religiosa.

Neste sentido, sugere que o indivíduo se caracteriza pela humanidade com seus semelhantes e através da veneração aos seus ancestrais.

Vasculhando nos sítios da internet, ainda encontrei que as pessoas que compartilham do princípio do Ubuntu no decorrer de suas vidas continuarão em união com os vivos após a sua morte.

Só o título, por si, é inesgotável e traduz a preocupação do autor de Maganda e Ndzuti, seus álbuns anteriores, com o debate dos valores morais em crise a nível social. No intervalo dos últimos cinco anos os sul africanos encheram os jornais do mundo inteiro pelos seus actos de violência e Xenofobia. Ubuntu é do Zulu, é uma ironia?

Não sei, talvez Mazuze responda.

A imposição do saxofone e da flauta Mazuzianas tornam os outros instrumentos modestos acompanhantes.

Numa estrutura rítmica que dispensa a voz, criando um lençol sonoro capaz de provocar sensações distintas que invadem, sem agressão, o ouvido, descem a espinha e circulam entre as veias.

Na faixa “Malecon”, a flauta tocada com uma espécie de exitações em alguns momentos da peça, depois descansa, dando espaço a bateria, o piano, o baixo que fazem das suas, numa harmonia agradável ao ouvido.

Em tempos difíceis que o país atravessa, este álbum é uma mensagem de esperança. O título “Kulhula” (Vencer) pode significar que não obstante as dificuldades, é possível ultrapassar as barreiras e lá no fundo superar.

Mazuze ainda dá um incentivo, na faixa “Hamba kahle” (Vá bem), esta é uma das mais animadas do Ubuntu.

Restam ainda as faixas “Short of peace, Ubuntu” entre outras.

Já que Ubuntu é o que a pessoa é, o álbum fecha com o título “Talking with myself”, um convite a introspecção do ouvinte, a música é calma e suave, leve.

Sugiro a escutar o álbum numa tarde de domingo, em conversa com amigos, num ambiente calmo, acompanhado de umas cervejas

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