Não vai uma?

Depois que entrei no jornal diário, meus domingos já não são sagrados. Quando amanhece, faço o sinal da cruz, molho meu corpo, pinto os meus dentes com “colgate”, apanho o transporte e vou a missão: trabalho. 

Cidade vazia. Os únicos que perambulam pela antiga Lourenço Marques, no dia em que Deus descansou, são os que querem, a todo custo, ouvir a sua voz entre quatro ou mais paredes. Uns de branco, outros formais, alguns informais e poucos rotos. Apressados, aflitos, tranquilos ou lentos, eles caminham em direcção à casa do Senhor das Grandes Obras, o Jornalista do Universo, aquele que contou a história do início, narra o desenvolvimento e mesmo com a minha morte vai continuar a escrever o destino dos mortais.
A viagem é rápida, mas a partida da paragem é lenta, a viatura tem de encher antes de avançar. 
Estou perto do destino. Desço. Enquanto caminho, reparo para o deserto de Maputo, a baixa vira Kalahare, só é pisada por crentes e Homens com babalaza.
Blusa azul, boxers preto. São 07h59min, vi no relógio. Hoje até está frio e ela assim. Olhei para a rua que me leva ao meu trabalho e vi outras mulheres com as mesmas características. Umas gargalhavam como a Ludmila da tela, outras seguravam garrafas de cerveja, cigarros, bebiam e fumavam. Alguns vendedores de rebuçados, bolinhos e chocolates puxavam papo com elas. 
Continuei a minha peregrinação, mas uma aparou a minha frente. Vestido curto, pernas grossas, estatura baixa e a dimensão de seus seios fazia uma sombra gigante. Pensei em perguntar o que ela queria, mas ela logo se adiantou: “Não vai uma?”, disse entre gemidos, abanando o corpo lentamente. 
Respirei fundo, procurei uma brecha, dei dois passos. Ela tocou o meu braço com as suas garras, fiquei-me no caminho, acariciei com indiferença o raspão que ela fez. Depois de quatro passos, senti que a jovem já havia desistido. 
Há escassos metros da Travessa da Boa Morte, reparo para um jovem a sair de uma porta com uma delas. Escutei o som das moedas a caírem, tudo indica que o homem gastou suas forças em trabalhos que nem quero detalhar. 
Quando estou a passar a Travessa, vejo dois policiais a interpelarem o jovem, que tentava recolher as moedas no chão. Parece que amargou para uns e outros terão moedas para o mata-bicho.



Acredita em seus sonhos e transforma-os em verdade. Com amigos fundou o Mbenga e escreve o seu destino. Colaborou com periódicos dos
PALOP’s, trabalhou em Relações Públicas ( assessoria) e Publicidade e Marketing. É repórter do Notícias. Este é só o principio da revolução.

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top