“Outubro Rosa Moçambique”: um convite para repensar na arte de viver

Por Eta Matsinhe
Foi através do autoexame da mama que Elizeth Lee e Katya Saraiva, de 39 anos, descobriram os primeiros sinais do cancro de mama e iniciaram a batalha pela vida.

Elizeth, é uma mulher de olhar meigo, voz suave e decidida a ajudar através do seu testemunho. Ela revela que recebeu a confirmação do cancro de mama no estágio um, em Setembro de 2016. “Eu fiz a cirurgia e passei por algumas sessões de radioterapia. Hoje, faço apenas uma medicação diária e tomo injecções trimestrais, porque tive um diagnóstico precoce”, introduziu Elizeth.

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Elizeth Lee discursando

Katya, por sua vez, tem um sorriso largo, um olhar cativante e com muita vontade de viver. Ela descobriu o cancro da mama do tipo carcinoma invasivo no estágio três. “Estava a tomar o banho quando percebi que tinha um caroço na mama. Para ser sincera, não me chamou tanta atenção. Mas, dias depois, tive hemorragias descontroladas e corri ao médico”, relembrou Katya.
Porque a doença era muito agressiva, Katya contou – com a voz rouca e os olhos embaçados – que foi submetida a cirurgias, uma para a remoção do seio direito – mastectomia–, outra para o esvaziamento das axilas. E, enfrentou 18 ciclos de quimioterapia e 22 secções de radioterapia.
Hoje, livres da doença, afirmam que aceitar o diagnóstico e lutar pela vida foi um processo penoso e destacam o apoio da família e amigos como crucial para o sucesso do tratamento. “Quando descobri tive muitos medos. A doença despertou em mim sentimentos que eu desconhecia. Mas, em momento algum pensei em morrer. Porque desde o princípio tive o apoio do meu marido, amigos e familiares”, relembrou Elizeth Lee.
Katya Sairava
Katya Saraiva

Estas histórias – contadas na primeira pessoa – arrancaram aplausos e lágrimas do público que lotou o jardim da Casa das Meias, na Quinta-feira (5), na cidade Maputo, para assistir ao lançamento da campanha Outubro Rosa Moçambique 2017; um movimento que tem como objectivos promover a prevenção do cancro de mama e dar apoio as vítimas da doença.
Elizeth, justificou a sua participação na campanha, pelo facto de acreditar que é uma oportunidade de ajudar outras mulheres a lutarem pelas suas vidas: “Se nós trocarmos experiências, mostrarmo-nos e falarmos, podemos contribuir para a que pessoa doente não tenha medo do cancro e não desista do tratamento”, fundamentou.
Katia concordou com o argumento de Elizeth, tendo acrescentado que fazer parte da campanha Outubro Rosa Moçambique lhe remete as várias emoções, pois relembra de tudo que passou durante o tratamento.
O movimento Outubro Rosa Moçambique envolve pessoas de diferentes sectores da sociedade. E as classes artística e jornalística são tidas como meios para a divulgação de mensagens de conscientização e prevenção. Este ano, 17 personalidades deram o seu rosto para o mural de fotografias.
A escritora e artista plástica Sónia Sultuane, esteve presente no lançamento e afirmou estar satisfeita por poder testemunhar aquele momento. Primeiro por ser uma sobrevivente dum outro tipo cancro, e segundo pela particularidade do projecto Outubro Rosa Moçambique ser organizado por jovens.
Christina Viola e Sónia Sultuane
Da esquerda para direita, Christina Viola e Sónia Sultuane

Ainda no seu discurso, Sultuane deixou escapar o que mais lhe havia tocado no lançamento: “Vi gente com tanta esperança. Houve depoimentos muitos fortes, muito profundos e muito bonitos. E o que importa nisto tudo não é realmente a doença, mas é a superação. É bom ver que há muita gente a superar.”
Cármen Chaquice, cantora, e Jéssica Júlia, artista plástica, também prestigiaram a noite com a sua presença. Elas foram unânimes ao considerar gratificante poder contribuir pela causa través da arte. “É importante falar do cancro porque esta doença não escolhe. Hoje é uma pessoa desconhecida, amanhã posso ser eu. Então, todos nós temos que nos sentir confortáveis em falar e devemos acarinhar a quem está doente.” Acrescentou Jéssica.
Madina Esmeralda
O Movimento Outubro Rosa Moçambique foi criado em Setembro, do ano passado, pela estilista e gestora bancária, Madina Abacar. Ela explica que Outubro é o mês do seu aniversário e instigada pela vontade de fazer algo na luta contra o cancro de mama, decidiu criar o movimento. A jovem conta com suporte de um grupo de amigos para realizar a campanha e arrecadar fundos para a enfermaria oncológica do Hospital Central de Maputo.

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