Viajar por Kukavata (6)

Mpulani

por Dadivo José

Já tinha falado que Muzila, jovem saxofonista do grupo, cede a sua voz, o corpo e espírito para que Pedro reinvindique a vida. Pedro precisa de mostrar o quão as músicas deles serão sempre actuais neste Moçambique que segue o curso de Políbio da história, através das fomes, guerras e outras desgraças. Pedro é natural da província de Gaza, umas das províncias que mais sofre dos efeitos da estiagem, mas também das cheias. Presenciou a situação de 1983 e depois criou o hit Mpulani. À semelhança da música dele, “He madjaha”, esta é uma canção curta, com uma mensagem curta, mas significados esticados. O assunto aqui é a fome provocada pela estiagem. Uma estiagem que tira água e capim para o gado. Isto está tão seco que até o lençol freático fez um deslocamento mais abaixo. Só nos resta sentarmos como madodas para traçar um plano e estratégias para enfrentarmos a crise.

 

A dúvida que tenho está relacionada com a dificuldade em abrir o poço. O nível freático baixou ou as forças para cavar mais a fundo se foram por causa da fome? Essas reuniões de madodas, ja existem desde Dar-Es-Salam, Assembleia da República, comités, círculos dos bairros, etc, etc, mas nada muda. Estamos neste ciclo de sentadas para planeamento estratégico, mas fome que é fome, continua mostrando a nossa real insignificância económica, dependente de uma agricultura não valorizada. Para quando um José do Egipto para nós?

 

Voltando a música, aqui houve uma fidelidade total da primeira composição, sendo que a diferença está no solo, que desta vez é feito por flauta, ao invés do saxofone, num funk disfarçado numa marrabenta, mas delicioso de se ouvir.

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