Na habitual esquina

Por Nataniel Nhabanga
Vamos ficar na habitual esquina do bar, onde não há dedilhar do violão, escutar o chilreio, uma música calma, suave e confusa. Na companhia do barulho do nosso silêncio ao longo da nossa troca de conversa.
 
-Muito bem meu rapaz, você é dos tipos de que eu gosto, vejo que se dá bem em parábolas. Fala aí. -Não Messias, assim você deixa-me em reticências com palavras no fundo da garganta. Uma das verdades que te direi é que já pedalei muito na zona sul, onde o sol só morre e ninguém o vê nascer.
 
Outra coisa é que não é sempre que sepultamos pessoas mortas.
 
-Li numa crónica de “Bitonga Blues” que mais ou menos dizia: uma criança apresentava-se numa posição de alguém já morta, braços abertos em formato de uma cruz, não agia, não comia e nada fazia. A mãe coitadinha, de vez em quando ia mudando a posição da menor. Na zona do pescoço e da nuca ela sangrava diariamente e horariamente ia libertando líquidos pela mesma zona. E a mãe resolveu levá-la a uma unidade hospitalar.
 
E na unidade hospitalar a situação agravou-se, ela começou a libertar um cheiro ruim e nojento, o que começou a poluir todo o Hospital. Os médicos aplicaram todo o seu conhecimento e esforço para libertá-la e livrá-la da morte, do sangramento inclusive da doença, mas não conseguiram. Cada indivíduo que visitou a unidade, ao vê-la dizia:-“vale a pena matá-la do que deixá-la a sofrer”.
 
Alegavam que libertava um cheiro capaz de agravar a situação dos doentes ambulatórios e internados. E os médicos sem saída para a situação da menor, um ano depois, deram alta à menina de forma a continuar o seu tratamento e terminar com a medicação em casa. Quando chegou à casa chamou-se curandeiros e estes resolveram mandar enterrá-la.
 
-Meu rapaz, isso quer dizer que ela já estava morta.
 
No cemitério enquanto adornavam o rosto dela com pó e perfume, algo aconteceu e ninguém soube dizer de onde veio o milagre. Pois ela levantou-se da urna com o rosto empoeirado de pó perfumador pedindo para que a ajudassem  a sair da urna. Ninguém se disponibilizou, todos meteram-se em fuga.
 
-Vai, conta mais. Mas acho que seria melhor falares de outra coisa, porque esta estória que acabas de me falar é muito séria e até dá arrepio só de lembrar.
 
-Messias, você sabe que Jesus foi sepultado junto com Barabás, o bandoleiro?
 
-Não sei.
 
-Fique a saber a partir de agora que depois da sentença do Pôncio Pilatos, Jesus foi crucificado e morto. Barabás depois de solto foi assassinado, posteriormente, os dois foram sepultados na mesma tumba. A sentinela de Pilatos estava enganada pensando que Barabás morreu, mas ele estava…é “vivinho da silva” como se diz.
 
-Quando passou o sábado, as mulheres compraram o perfume para ir embalsamar o corpo, ou seja o cadáver de Jesus. Elas pelo caminho perguntavam-se:
 
-“Quem vai nos tirar a pedra na entrada do sepulcro?” -E quando chegaram ao sepulcro a pedra havia sido afastada para um lado, permitindo entrada e saída do túmulo. Quando repararam para o jazigo, o corpo de Jesus não estava mais na pedra, com sorte encontraram no depósito, os lençóis que o haviam embrulhado.
 
-Quem roubara o corpo de Jesus fora Barabás. No entanto Jesus e Barabás ainda não foram encontrados, mas até nos dias de hoje, está a ser estudado o caso do desaparecimento físico do Senhor Jesus, que ressuscitara e não voltara ao pó de onde veio.
 
-Olha meu rapaz! Isso é um caso muito sério. Gatilha-me bem a estória de Barabás.
 
-Oh Messias! Eu termino aqui, senão o Lúcifer pode levar meus discursos à Deus.
 
-E para terminar digo-te, que Barabás está à esquerda de Deus e Jesus encontra-se na posição direita do Pai.
 
-Oh Messias deixa eu terminar, você é um sujeito em pessoa.

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