(In)Versos retrata humanidade em crise

Por Elton Pila

“A Crise” põe-nos a pensar no Homem e sugere-nos acções concretas para travar à extinção da humanidade. O espectáculo, apresentado pelo Grupo de Teatro (In)Versos, semana finda, é dos pontos mais altos da 14ª edição do Festival Internacional de Teatro de Inverno, que termina nesta semana.

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Venâncio Calisto (n. 1993) já começa a deixar pegadas firmes nas artes cénicas moçambicanas. Vai dos clássicos aos contemporâneos, nesta viagem, conta já pouco mais de cinco peças adaptadas e encenadas, entre elas destacam-se “O Mercador de Veneza” de William Shakespeare, “Mulheres de Cinza” de Mia Couto e “O Casal Palavrakis” de Angélica Liddel. A adaptação desta última foi apresentada, há semanas, no FITI.

Mas quem pensa que o seu percurso tem sido feito na boleia de grandes textos engana-se. Da sua pena, entre outros, saiu “Qual é a sentença? A mulher que matou a diferença”, representada, recentemente, no Brasil. “A Crise2 é, também, a prova do seu talento ante a uma folha branca.

Longe de ser uma obra sobre a crise económica, como uma leitura superficial, talvez, também, contextual, pode sugerir, é uma obra sobre a crise humanitária, sobre o Homem. Seria novidade, se não fosse Pensar o Homem uma preocupação constante nas criações e adaptações de Venâncio.

O espectáculo reflecte a degradação do lado humano do ser humano. Mas não é uma obra apenas de lamúrias (ainda que existam), também, propõe soluções. Numa altura em que uns pensam em construir muros para demarcar a sua posição e a dos outros, a peça sugere que nos unemos e que fecundemos novos sonhos.

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No palco, não vemos personagens, vemos pessoas, sem nomes, mas donas de vozes que teimam em nos fazer ver o caos da humanidade, a indiferença do homem perante o homem, o individualismo que leva a extinção do outro.

As mãos que um dia construíram o mundo, ligaram os homens, amaram. Hoje, atadas pela ambição desmedida, pelo capitalismo selvagem, são incapazes de estender-se para o outro. O homem assiste impávido a decomposição do planeta, inala a podridão do mundo a espera da extinção da humanidade, que, pelo trote do cavalo, afigura-se próximo. Mas “Se todos nos déssemos as mãos, uns aos outros, em prol duma corrente de equilíbrio, talvez se salvasse alguma coisa deste mundo em constante declínio” sugere uma das vozes.

Texto e encenação: Venâncio Calisto
Elenco: Eunice Mandlate, Marisa Bimbo e Yuck Miranda 

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Sonha em mudar o mundo. Acredita no jornalismo e na literatura como agentes desta mudança. Colabora em alguns jornais, revistas e festivais de literatura. Actualmente, é redactor da Revista Literatas e tem a coluna semanal Como Sopra o Vento

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