CHICO ANTÓNIO: Eterno vagabundo, uma espécie de Maradona da música moçambicana

Por Dadivo José

Um dos maiores intérpretes do futebol foi o grande, o único, o génio solto, Diogo Armando Maradona, um tipo que até o mais puro dos cínicos seria incapaz de ignorar. Maradona viveu futebol dentro e fora das quatro linhas, acontece e alimenta discussões até hoje.

Um artista acontece, divide opiniões e no silêncio, a consciência trai todas mentes do contra e se curvam diante do astro. Assim é Maradona, assim é o grande Chico António, 59 anos de vida, que continua uma incógnita e um eterno imprevisível, tal a vida de um vagabundo, que não se sabe em que linha se traça.

Chico António acontece quando menos se espera. Ficou anos castigando os fãs, sem gravar um disco. Tranca-se no quarto brincando de compor, enquanto o povo grita lá fora para que ele vá aos palcos. Entretanto, porque ele tem fibra de vagabundo, cujas linhas metódicas não obedecem uma lógica do domínio popular, faz o que entende, quando entende. Ele sabe que é craque no que faz, sabe que pode anunciar hoje, que vai fazer o pior espectáculo da história das artes performativas em Moçambique e, mesmo assim, o público vai encher o espaço escolhido.

Um dos maiores intérpretes do futebol foi o grande, o único, o génio solto, Diogo Armando Maradona, um tipo que até o mais puro dos cínicos seria incapaz de ignorar. Maradona viveu futebol dentro e fora das 4 linhas, acontece e alimenta discussões até hoje. Um artista acontece, divide opiniões e no silêncio, a consciência trai todas mentes do contra e se curvam diante do astro. Assim é o Maradona, assim é o grande Chico António, 59 anos de vida, continua uma incôgnita e um eterno imprevisível, tal a vida de um vagabundo, que não se sabe em que linha se traça.

Chico António acontece quando menos se espera. Ficou anos castigando os fans, sem gravar um disco.Tranca-se no quarto brincando de compor enquanto o povo grita lá fora para que ele vá aos palcos. Entretanto, porque ele tem fibra de vagabundo cujas linhas metódicas não obedecem uma lógica do domínio popular, ele faz o que entende, quando entende. Ele sabe que é craque no que faz, ele sabe que pode anunciar hoje, que vai fazer o pior espectáculo da história das artes performativas em Moçambique e, mesmo assim, o público vai encher o espaco escolhido.

Ele nunca se sentirá culpado por isso, porque o homem teve uma infância não moleza. A rua foi a sua parceira por muito tempo, até chegar a mão da caridade católica. Lá aprendeu a mexer com os instrumentos.

Chico toca trompete, flauta, guitarra e percussão. Pela quantidade de instrumentos que toca, pelas composições que nos ofereceu com o tempo, dá para perceber que, realmente, ele traz nas veias o ritmo quente.

Chegou de longe, da província, lá de Magude, para nos oferecer a boa música. Gosto quando ele pede para abrirmos as alas para ele. “Abram as alas para verem como é”. De facto, Magude é longe, não pela distância, mas por causa da atracção que foi para ele, ver a dinâmica da cidade de Maputo, sem ninguém, mas com ritmo quente nas veias, que só vai arrefecer com o apagar das gerações que sabem ouvir boa música.

Já estabilizado, conheceu amigos no grupo RM, com os quais gravou Muli Hefu (falarei deste tema adiante). Chico decidiu se casar com Maria e lhe pede para voltarem a vida calma de Gaza. Histórica e geograficamente, Magude consegue ser também uma parte de Gaza.

Hatlisa Maria é uma balada para um Homem que já se cansou do stress da cidade, já se cansou da improdutividade da cidade e, acima de tudo, quer resguardar a sua boa esposa das tentações da cidade. Tem Razão Chico, os meninos musculosos, os senhores endinheirados, poderiam ser uma tentação para Maria. Por isso, devia deixar as roupas com etiquetas de USA para a pequena Zulmira, porque essa ainda tinha idade para ver os rapazes loucos por ela. Esta canção não é apenas uma balada bonita, é também um marco cronológico na História de Moçambique.

Hatlisa Maria u longuela ti mpahla/ kuni mova wa muchololi/ uya ka Gaza”- Apressa-se Maria/ Há um carro de candongueiro/ que vai a Gaza.

Esta é a marca da propriedade privada que era combatida antes, para o sucesso dos ideais socialistas. As roupas made in USA mostram também uma abertura de Moçambique para o mundo.

Uma outra curiosidade está no facto de se saber que naquela altura, segundo os relatos populares, os autocarros de Xitonhana fossem os mais apetecíveis para os homens armados. Assim posso perceber o porquê da preferência do Chico pelo mova wa muchololi.

Porque não se pode acreditar muito no que um vagabundo diz, Chico enchia a Maria de promessas, levou ela ao baile da vida, mas já com olhos virados para outra mulher. Ele amava a Maria, mas não resistia ao encanto da voz da Mingas. Enganou a Maria, fazendo-a pensar que a música Baila Maria era para ela, numa declaração de amor ao nível dos cantares de Salomão. Ganhou o premio Internacional e esqueceu tudo, ficando lá, nas Franças dele. Para trás deixou a banda RM, a qual ajudou a abrir uns furos na França, por conta do sucesso de Baila Maria. Na verdade, ele achou que tivesse terminado a sua missão com RM: Fabricar a Mingas e deixá-la pronta para uma carreira à diva.

Chico estava cansado de frustrações com um mercado feito de especulações dos preços. Camarão tirado na nossa costa, cebola produzida aqui, custavam dobrar e só seria para gente abastada, num mercado de candongueiros.

Em Mercandonga, Chico explora também uma relação muito bonita de se ver, relação tia-sobrinho. Os pais, as vezes só mostram comida aos filhos, mas não dizem o que fazem para os sustentar. A tia Bina anda com o sobrinho e negocia os preços na sua presença. Era a vida da cidade dando razão a decisão dele de pegar a Maria e voltarem para as origens.

Lá em Gaza, as senhoras se encontram nas machambas e conversam de coisas construtivas, inventam passeios com enxadas para conversarem ao ritmo de trabalho.

Muli fefu– estão ofegantes, porque não falam com as mãos, conversam trabalhando. Isso é cultura de trabalho, não de fofoca nas redes sociais. A dúvida que tenho deste Muli hefu prende-se com a autoria do tema, já que é o título do álbum do grupo RM, editado recentemente.

Nada deteve o Chico António de abandonar Maria e ficar em Paris. Até porque, o que ele ouvia lá do campo era desencorajador. Taninga, por exemplo, estava ao Deus dará. Taninga não conhecia a bíblia e, segundo a crença popular, apanhando os ares das ilhas Marianas, recebe também influências de feitiçaria. Chico pensou e achou que essa coisa de feitiçaria devia ser brincadeira de todos lá no campo.

Ele estava mesmo tentado a experimentar a vagabundagem dele lá na terra dos brancos, isso aliado ao facto de a paixão dele por uma negra macua não ter passado de uma admiração efémera, coisa típica de músicos vagabundos em todos lugares por onde passam. Mesmo chitsondzo revela isso quando sai dando beijinhos as garotas e depois as avisa para não se apaixonarem, porque ele é um tocador (de guitarra ou das meninas?) ambulante.

Portanto, nada demoveu o Chico de ir a França. Foi e fez ele muito bom, porque lá aprendeu a ser um homem do mundo, um Maradona musical para o consumo internacional. O álbum que finalmente saiu em 2014 é prova disso. Tetego, é um tema de malucos. Se vocês não querem ressuscitar cadáveres, não ousem tocar essa música num cortejo fúnebre.

 

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