Críticas pela falta de críticas

Por Hélio Nguane

Nas artes nacionais há falta de críticas. Não se analisa as obras. É tudo superficial”, já ouvi várias vezes esta frase. Já há décadas que, em barracas, bares, restaurantes e, actualmente, nas redes sociais, leio e escuto conversas do género.

Há poucas criticas, sim é um facto. Mas o que você tem feito? Sim, isso mesmo. Não há críticas e depois?

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Em algumas ocasiões essas palavras vêm de gente da academia, gestores culturais, jornalistas, pessoas que lidam com as artes. Os mais novos questionam o futuro das artes e outros recordam com nostalgia o passado que chamam “glorioso”.

Aqueles tempos em que as obras eram criticadas, analisadas ao detalhe”. Sim e depois? Vamos fabricar uma máquina do tempo e recuar a esse período ou vamos convocar Cristo para ressuscitar os críticos falecidos e motivar os adormecidos? São opções, que cabem só na ficção científica e na religião.

Concordo com as vozes que afirmam que precisamos de especialistas. Sim, necessitamos de pessoas especiais, que tenham como especialidade analisar as artes.

Ok: sabemos o que queremos, sabemos o que está errado. Mas de novo a mesma questão: e depois? Nada, reclama-se, apoiam-se as reclamações e no dia seguinte os cães continuam a latir. Mas quando o espírito da reclamação volta, retorna-se a mesma conversa: crítica pela falta de crítica.

Sim, actualmente há mais críticos pela falta de críticos. Pessoas que se especializaram na matéria. Bota baixo, indivíduos que usam óculos de madeira para visualizar longe e chegar a genial conclusão de que “as artes nacionais estão doentes. Tudo está mal. As obras são medíocres, os artistas são medíocres, tudo está péssimo”.

Parabéns para eles, o tiro no escuro às vezes atinge alvos: existem medíocres, mas também existem boas obras e artistas.

Mas não é sobre os “bota-abaixo” que estou a escrever. Redijo pela mudança de atitude. Criticar a ausência de algo não mudará o cenário. O tempo, a saliva, os dedos e teclados gastos em críticas pela falta de crítica podem ser mais bem gastos na formação, no autodidatismo.

Por exemplo, em quantos anos se forma um especialista em crítica literária? Não é do dia para a noite, claro. Não é apenas na academia, claro. É na investigação, na luta diária por conhecimento. Se gastassem as forças fazendo isso, quantos críticos literários existiriam? O mesmo digo em relação à música, artes plásticas, teatro, cinema, idem.

No entanto, formação não é tudo, mas corresponde a boa parte do processo. Precisamos que essas críticas sejam divulgadas, sejam consumidas pela sociedade.

Eu em particular, já estou farto de ouvir conversas de críticos pela falta de crítica. Chegou a hora de se questionarem: “e nós o que temos feito? O que temos lido, ouvido, assistido para termos bases para escrever críticas a sério”.

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