QUANDO O ONTEM É UM BOM PRESENTE PARA O FUTURO

Por Leonel Matusse Jr.
Fumando os ares de um 4 de Outubro que somente me dão cabo do pulmão, me veio a mente aquela eterna frase, escrita em letras garrafais, nos maços de cigarro, porém ignorada: “FUMAR PREJUDICA A SAÚDE”. Mas que remédio? Parece que há muita gente ignorando a existência alheia.
Então, enquanto procurava algum papel para sacudir o ar, vasculhei algumas páginas gastas, na minha memória, e casualmente, para minha sorte, deparei-me com as celebrações de um tal dia da paz. Na televisão, nos jornais passeavam rostos sorridentes de orgulho pela conquista.
Nessa altura, nós que somos mais preocupados com o que se diz e se pensa a nosso respeito para lá do oceano, nos lisonjeávamos com a categoria de país exemplar. Que orgulho!
Nesses tais dias da paz, que encontrei nas páginas da minha memória, a mamã assava frango e, as vezes, comprava cerveja, enquanto o rádio soprava Ziqo da Silva Maboazuda. Era festa. Até esquecíamos as nhanganas diárias e a luta desenfreada para apanhar o chapa que nos levava à escola todos os dias.
Lembro, inclusive, que nessas escolas nos sentávamos no chão, não havia carteiras e os vidros das janelas estavam partidos, os quadros quase pretos – a tinta ia se dando nas tintas de tanto usada sem actualização –, embora eu sentisse dores, o argumento de que aquilo era resultado da guerra que tinha passado, me anestesiava. Nem mesmo me chateava quando toda a turma dava seu lanche ao professor para que ele nos permitisse sair mais cedo porque assim sobrava mais tempo para brincarmos no pátio.
Ah, que saudades! Entretanto temo partilhar estas nostalgias, a alcunha de saudosista envelhece a qualquer um na minha idade. Se bem que estou certo de não tratar-se de uma saudade ancorada na ideia de que os melhores são os que já se foram (todo morto era boa pessoa), também não é por pensar que os melhores músicos são os de ontem – o Moreira Chonguiça está ai a desmentir isso todos os dias. Nesta orbita nem teria percebido que Messi é o melhor de sempre.
A minha nostalgia é fruta do hoje, não regamos bem a planta ontem. E hoje o que contemplamos é uma pátria a(r)mada, desfilando de vermelho de vergonha.
Enfim, para fintar a nostalgia dizem por ai que “amanhã será melhor”. Eu crente, que sou, só espero, sem saudosismo, que ontem seja o meu presente para o futuro. Não que sinta saudades do Ziqo, mas do frango assado da velha, ah, esse sim.

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