Poemas de White influenciam composições de Aline Frazão

Por Leonel Matusse Jr.
aline-frazao
(www.sapo.ao/José Aveiro )
A COMPOSITORA e intérprete angolana Aline Frazão revelou, numa conversa informal, há dias na Fundação Fernando Leite Couto (FFLC), que a escrita do poeta moçambicano Eduardo White influenciou-a nas suas composições musicais.
Considerado um dos maiores poetas da literatura moçambicana e do espaço lusófono, Eduardo White perdeu a vida em Agosto de 2014.
Rodeada de livros da biblioteca da Fundação Couto e pelo público, ávido de conhecer a sua história, o diálogo ia fluindo, tendo Rita Couto como colocadora dos momentos de pausa e de avanço.
Neste ambiente de arte e de cultura, a intérprete contou que o cruzamento com a poesia do poeta foi “algo completamente revelador para mim”. Mas para além de White, na literatura moçambicana sente-se igualmente seduzida pela escrita de Luís Carlos Patraquim, Mia Couto e Paulina Chiziane. Entretanto, acrescentou: “ainda quero conhecer mais escritores moçambicanos”.
As composições de Aline Frazão, que conta já com três álbuns de estúdio, nomeadamente “Clave Bantu” (2011), “Movimento” (2013) e “Insular” (2015), têm uma forte carga literária, o que é possível perceber na descrição e nas construções frásicas dos seus versos.
A cantora disse que tal resulta do facto de ter “bebido” muito da literatura angolana, até porque no seu álbum de estreia, “Clave Bantu”, contou com os empréstimos de dois escritores angolanos: José Eduardo Agualusa e Ondjaki.
Já no segundo, “Movimento”, musicou o poema “Ronda”, da poetisa angolana Alda Lara, e interpretou “Desassossego”, cuja composição foi partilhada com outro poeta e jornalista do seu país, Carlos Ferreira. E esta “coisa” de transformar poemas em música continua no “Insular”, com a poetisa angolana Ana Paula Tavares.
Aline Frazão narra que na adolescência, antes de se mudar para a Europa, onde  residiu em Barcelona, Madrid (Espanha) e, actualmente, em Lisboa (Portugal), praticava dança e foi com esta que se estreou em palco.
O seu primeiro contacto com o violão foi aos 15 anos. Nunca estudou música. “Eu fui aprendendo com vídeos no “youtube, buscando as notas de Tom Jobim e de outros compositores da música popular brasileira”, esclarece.
Aline acrescenta que cresceu ouvindo jazz dos anos “[19]40, 60”, bossa nova, música cabo-verdiana e angolana. O que justifica esta multiplicidade cultural, em parte, é o facto de ser neta de avô brasileiro, cabo-verdiano, português e angolano.
Ouvindo estes géneros musicais, ricos em termos harmónicos, ela percebeu que a voz também era um instrumento por se explorar, por isso foi cantando e aprendendo. A escrita, à semelhança de muitos adolescentes, começou nos diários pessoais e depois foram os poemas.
“Mas eu cantava músicas dos outros porque temia que a minha não fosse aceite. Na verdade, era vergonha de adolescência”, contou.
E só começou a levar a música a sério quando mudou-se para Barcelona, na Espanha, onde ia estudar Jornalismo. “O meu primeiro concerto foi em Barcelona. E foi ali que eu comecei a perceber que era possível prosseguir com esta carreira”, sublinha.
Quando foi morar em Madrid, Aline passou a tocar nas casas de pasto, interpretando músicas de outros compositores, de craveira mundial.
Na conversa, a dado momento, alguém da plateia perguntou que género fazia, ao que respondeu: “para te ser sincera não sei. É que tenho muitas influências e elas estão lá no que faço. Nos primeiros dois álbuns tinha muito do jazz e neste último eu quis romper com isso, experimentar, arriscar e incluí dois instrumentos que não usava antes, que são a arpa e a guitarra eléctrica”.
Já em relação ao processo de composição, disse que o seu acontece em momentos de reclusão e sossego. Não obstante estar fora de Angola há 10 anos, revelou que o seu imaginário poético é Angola, é Luanda.
Conforme sublinha, pensa em voltar para breve por acreditar que deve pôr em prática as teorias que foi aprender na faculdade. Entretanto, reconhece que a situação política do país a desconforta, uma vez que assina uma crónica por semana na Rede Angola e os temas são sociais e políticos.
*Publicad0 no J0rnal Notícias – 10/10/16
Acompanhe o vídeo de Aline Frazão – “Insular”

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