Jorge Dias expõe no Franco

Para Jorge Dias, há muito que os objectos materiais do uso diário deixaram de ser simples. Através de papel, linha e cola, o artista plástico combina aqueles materiais com cerâmica, tecido, folhas secas, que dão cor e vivacidade e traz os “Lugares de Passagem” numa exposição patente de dia 4 a 29 de Agosto do ano em curso, no Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM).
Foram precisos dois (2) anos de trabalho nas galerias para trazer o “Lugares de Passagem” ao público. Os quadros que Dias nos apresenta são no total 33. Uma exposição que Jorge Dias preferiu dividir em secções. Os nomes que as obras possuem são fruto do que ia produzindo ao longo do tempo. Nelas, há um grupo com uma designação “densidade”, outro com “confecções”, seguem os próprios “lugares de passagem”, passando para “primavera”, “soberania” bem como “lugar comum”.
Dias explica que cada nome possui um sentido que é lhe particular. Aliás, em lugares de passagem, o artista procura trazer ao debate questões ligadas a evolução da arte, o seu trajecto e as características que lhe são próprias. “O tema procura contar uma história, busca os processos de reflexão sobre os limites da arte, mas também tem a ver com o diálogo, com as formas que as obras tem bem como o seu percurso”.
Verdade ou não, o facto é que as obras despertam um sentimento único nas pessoas que as visitam. Elas reflectem as questões culturais, outras tocam nos sentimentos humanos e falam da felicidade, enquanto algumas se concentram em questões de defesa ou na ideia de protecção.
Arte como arma de comunicação
Os 25 anos que Dias tem como artista plástico se revelam na grandeza com que é visto pelo público bem como pela classe artística que o acompanha. Um homem sereno, que fala com uma voz baixa, que agora sente se mais tranquilo na área onde se encontra, apesar de que quando começava a engrenar na área artística sonhava ser um grande pintor. Um artista versátil, fora a prática da arte, Jorge Dias é também curador e escreve sobre a mesma área.
Essa sua última exposição pode ser considerada a mais concorrida de sempre. Uma sala cheia do público admirador, dividido entre artistas e pessoas curiosas que se fizeram aquele local para o acompanhar. Jorge Dias conta no seu discurso que desta vez se sugeriu trazer uma particularidade nessa exposição. “Olho para os elementos que compõe o dia-a-dia, os materiais que se vão transformando e me propôs a fazer um discurso sobre a arte que é este”, diz.
E no seu discurso que ganhou forma em obras fixadas nas paredes do franco, há coisas inexplicáveis e incontroláveis: o tempo. Essa coisa que Deus inventou e que agora os humanos vivem frustrados porque não sabem como adiantá-lo e nem como recuar. “O tempo presente é o que temos controlo porque é o agora, o passado é acumulação das fórmulas e que temos através dos registos, e o futuro nos foge do controlo”.
A inspiração veio dos textos de António Cabrito, e agora, Jorge Dias não pensa em mais nada, senão na energia positiva e experiência que a exposição deve passar ao público. Para já, o evento contou com a participação da vice ministra de cultura e turismo que, dentre vários pontos, saudou os que prestaram o seu apoio para tornar “Lugares de Passagem” numa realidade.
A vice ministra disse que o seu ministério entende a necessidade de se introduzir a componente cultural como forma de comunicação, pois “as artes são acessíveis a todas camadas sociais”. Para ela, a obra de Dias nos introduz num mundo interior por várias ligações com vários labirintos” e que por via disso faz nos descobrir a liberdade que nos leva a um caminho que torna um passado leal.
De referir que o evento contou com a participação de estudantes da Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV) que coloriram a festa com cântico e poema, a directora do CCFM, e um público que admirava as obras de Jorge Dias com um copo na mão, enquanto isso abandonávamos aquela casa de cultura que ficou ali com os seus quadros a espera de mais gente para o visitar.
Por  Safira Chirindza

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