Não tenho medo de fantasmas

Histórias de fantasmas são contadas a todas as crianças, creio, que, um pouco pelo globo todo. Sendo que estes, os fantasmas, têm medo de luz, só circulam de noite, passar ao lado do cemitério depois do sol se pôr, é um acto de coragem, ali é o seu habitat.Fantasmas não passam de mortos mal resolvidos com a vida, almas penadas.
Eu, particularmente não me dou a esse luxo de sentir medo deles, pois como diz tio Gil: « mesmo por baixo do cobertor, aparecem», já que cruzam o tempo e o espaço.
Meu medo de passar ao lado do cemitério têm vivas razões, é por causa de gente “vivinha da Silva”.
Há dias, minha parceira, vinha ao cubico onde moro, na avenida Karl Marx. Falava ao telefone com uma amiga, diz ela. Quando do nada, de dentro do cemitério saltaram dois marmanjos, bem vivos, para lhe arrancar o telefone. Com aquela subtileza única, só deles pegaram no telefone que estava na sua mão, percebendo a resistência, da assustada vítima que gritou, educadamente, lhe esfregaram um tabefe no rosto e cumprida a sua missão, voltaram ao cemitério, onde habitam os fantasmas.
Ela chegou em lágrimas, a carícia ainda doía no seu rosto. A acalmei.
Algumas dúvidas me assaltaram de seguida: como é que em plena Karl Marx, no centro da cidade, no muro do cemitério, que ocupa um espaço equivalente a um quarteirão, não tem nenhum poste de iluminação pública?
A resposta que me ocorre é: talvez para salvaguardar a segurança dos fantasmas, eles gostam do escuro. Ou ainda, como já ouvi na vizinhança para cobrir outros negócios. Diante do cemitério, está situado um edifício da loja de electrodomésticos, Kayum Center, incendiada há alguns anos. Já ouvi que pode ser um celeiro de droga, mas, prontos, as pessoas dizem tudo e menos nada, por isso nunca dei-lhes atenção.
Outra dúvida é, porquê que num lugar com muita gente a circular, não há nenhum polícia de segurança pública?
Resposta: lembrei que de dia, sempre há os de trânsito, ali passam muitos chapas, o que não acontece de noite. Os fantasmas não dão “refresco”. E os famosos “cinzentinhos” só circulam a caça de B.I., bem longe dali, os ladrões e fantasmas não são seu assunto, ou, também como muitos, têm medo de fantasmas.
A minha falta de medo pelos fantasmas não é um acto de coragem, talvez de medo mesmo. Explico-me: não vou gastar meus medos em perigos improváveis, há perigos de verdade por temer, desses tipos que habitam o habitat dos fantasmas.

Leonel Matusse Jr. In WA ghaya

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