Selma Uamusse Prepara Estreia a Solo

CR1_5028-873x580Selma Uamusse deu os seus primeiros passos musicais no gospel, o seu talento, já reconhecido em Portugal, levou-a navegar por outros estilos musicais. É conhecida pelas suas colaborações com vários músicos respeitados em solos lusos – Rodrigo Leão é só um exemplo – bem como pelo tributo a lenda do jazz, Nina Simone, que teve grande repercussão pelas terras do Fado. Actualmente Selma Uamusseestá em estúdio a produzir seu álbum de estreia que vai marcar a sua viragem para a carreira a solo.


Texto: Leonel Matusse Jr.

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É cantora, intérprete e encontra-se em estúdio a produzir o seu projecto primogénito intitulado “Selma Uamusse”. O álbum será composto por faixas de world music, com uma inclinação “mais” para a fusão da música tradicional moçambicanaSerá composto por «10 ou 11 faixas. Temos 16. As que nos interessarem mais vão para o disco. Oito delas serão apresentados nos concertos», disse Selma, que conta com a colaboração de músicos moçambicanos nas composições e interpretações.

«Isabel Novella compôs algumas coisas para mim, o Miguel Chabindza também. Canto com Chico António, “Baila Maria”, numa versão minha que gravei cá no estúdio do João Schwalbach. Fiz outra versão, do Eduardo Durão que o Cheny Wa Guny (membro dos Timbila Muzimba) me ensinou e acho que terei também uma colaboração do Matxume (membro dos Timbila Muzimba)», Revelou.

O projecto já desfilou em um dos maiores festivais de World music português, o Festival de Músicas do Mundo (FMM). A apresentação foi bastante ovacionada, o que lhe permitiu dar a cara na imprensa portuguesa. «Estreei este projecto no ano passado e foi bem recebido, num dos maiores festivais de world music a nível europeu (o FMM). Estou muito expectante em relação ao projecto, que se enquadra no circuito world music. Canto em Ronga, Chope, Inglês, Português», contou Selma.

Internacionalização da música

O objectivo da cantora moçambicana radicada em Portugal a cerca de 26 anos é levar a música moçambicana além-fronteiras. “Este ano vou ao Brasil e EUA. Acho que devemos levar a  música moçambicana para fora. Esse espirito faz muita falta no nosso país».

Receios de Selma na carreira a solo

O projecto “Selma Uamusse”, como referimos, marcar o início da carreira a solo da cantora e intérprete moçambicana. O facto de ter várias colaborações em Portugal deixa-a com incertezas em relação a recepção do público, já que não é conhecida a solo. «Tenho feito muitas coisas e tinha receio quanto a receptividade. Apareço sempre na banda dos outros, acho que sou conhecida no meio artístico e no meios de comunicação social, mas ainda não a nível do publico em geral

A iniciativa de produzir este álbum materializou-se depois de uma temporada de concertos em homenagem á Miriam Makeba em Portugal. Alcides Nascimento, amigo da Selma, a incentivou e mostrou-se disponibilidade em ajudar. «O desafio era ir buscar qualquer coisa de ritmos moçambicanos e fui afundo nisso. Busquei instrumentos nacionais: timbila, mbira», contou Selma Uamusse.

Início da carreira

  Iniciou-se na música evangélica, quando adolescente numa tarde enquanto cantava em uma festa. Um dos convidados q  eu era maestro de um grupo de gospel, admirou seu talento e a convidou a incorporar seu o coral. Até aquele episódio, não tencionava fazer uma carreira musical, «eu tinha 17 ou 18 anos de idade, estava a cantar numa festa e estava lá um maestro de um grupo de gospel e ele disse, tu cantas muito bem, não queres vir cantar no meu grupo? – perguntou- Eu respondi, gosto de cantar, mas não quero fazer isso profissionalmente. No entanto, a partir dali fui achando a vida de cantora interessante.»

Do gospel ao rock e, depois outros géneros.

«A dada altura mudei de grupo de gospel, porque o maestro mudou-se para Inglaterra. Fui para outro grupo, que era composto por seis membros, que tinha um maestro angolano. O grupo fiz uma parceria com uma banda de rock, Wraygunn. Fizemos uma digressão do lançamento do disco desta banda. Rolou uma empatia e eles ligaram-me e convidaram a participar da digressão á França em 2004. Eles já eram conhecidos, já tinham um álbum no mercado».

Ai começou o seu lado profissional na música e as pessoas foram a conhecendo, surgiram muitos convites, colaborou com outros grupos.

A música gospel converteu Selma Uamusse que cresceu com educação cristã católica romana, para uma protestante, «me converti por causa da música. O meu entendimento, relacionamento com Deus passou a ser completamente diferente por causa da música gospel americana, mas depois entretanto passei a descobrir outras sonoridades».

Formação em Engenharia Civil e Música

Enquanto Selma crescia a nível musical, frequentava o curso de Engenharia civil, mas isso não atrapalhou o seu desempenho e concluiu o curso. Depois apostou afincadamente na sua formação musical.

«Precisava entender um pouco mais o que eu estava a fazer, a cantar. Então inscrevi-me numa das melhores escolas de Jazz de Portugal, Hot Club em Lisboa, a primeira escola do género em Portugal. Estudei e aquilo abriu os meus horizontes, passei a entender um pouco mais algumas coisas».

Essa passagem pela escola de Jazz abriu-lhe novos horizontes e «abriu-me a possibilidade de criar um projecto no qual eu possa ser completamente a cara, Selma Uamusse Nu Jazz Ensemble».

 Antes do Nu Jazz Ensemble, Selma criou outra banda, Soul Divers, que era um tributo as estrelas do soul. «Gostava muito naquela altura da Erykah Badu, Jill Scott, Alicia Keys e Lauren Hill, elas eram os meus ídolos na altura. E depois disso fui para Ensemble que era mais virado para o Nu Jazz, coisas do género José James», esclarece.

Selma Uamusse é conhecida em Portugal também pelos concertos do tributo a lenda do Jazz, Nina Simone, que teve uma grande repercussão nas terras do fado.

Selma conta que tudo começou quando num concerto do seu Selma Nu Jazz Ensemble, uma das suas melhores amigas ofereceu-me uma caixa de cds, «que era uma espécie de antologia da música dela [Nina Simone]. E ela disse acho que isso tem a tua cara, ela e uma mulher revolucionaria, tem o lado espiritual, e mais também tem o lado muito feminista».

A cantora e intérprete já conhecia Nina Simone, mas aprofundou visto que «aquilo continha dvd’s e tinha a história dela. Li, fiquei fascinada com aquilo e decidi fazer um concerto Nu Jazz Ensemble que correu tão bem que nunca mais fiz concertos do Nu Jazz ensemble. Passei só a fazer concertos de homenagem a Nina Simone que é um projecto que cresceu muito», disse Selma Uamusse.

Nina trouxe outra Selma Uamusse á superfície, e um concerto muito intenso, «eu transfiguro-me um pouco, por varias coisas, pela música que ela transmite, a pessoa que ela é, com a sua mensagem. Fui convidando vários músicos portugueses» o que lhe rendeu colaborações com músicos de jazz em Portugal, em alguns discos.

O projecto que iniciou em 2009 foi interrompido entretanto em 2010 porque Selma «estava a fazer outras coisas e fui mãe», justifica. Na sequência decide deixar a Engenharia Civil de lado, para dedicar-se inteiramente a música e gravar o seu próprio álbum, «até 20210 tentei conciliar a música com a engenharia civil, mas decidi apostar no que gosto (música). Já tinha o meu curso (de música) e a experiência. Foi numa altura que comecei a investigar mais a raiz africana, os ritmos de Moçambique, as minhas raízes. Estava a descobrir música africana, estava num grupo de Afro beat, Cacique 97 com o guitarrista moçambicano Milton Gule.»

Colaborações

Selma Uamusse tem colaborações variadas, em diferentes estilos musicais, o que lhe proporciona vários concertos por mês. No movimento Hip Hop português, «estou a trabalhar com o General D, o Valete, participo dos concertos dele, entre outros

A nível do Jazz, é vocalista do Projeto Locomotivo, composto por Carlos Barreto (contra baixo), Alexandre Frazão (baterista), Mário Delgado (guitarrista). «A minha vida artística em Portugal está boa», afiançou. Não para por ai, colabora igualmente com os Cacique 97, um agrupamento de Afro beat, que tem como elementos Milton Gule (guitarrista), Paulo Furtado, Samuel Luria, Suzana Tavares, Nataniel Mel (percecionista), Goncalves Santos (baixo).

«Actualmente estou a trabalhar com o Rodrigo Leão, que faz música erudita. Fez a trilha sonora para o filme americano “The Butler”. Convidou-me para fazer a voz nos concertos dele, no concerto canto minhas músicas, com violino e tal», disse entusiasmada.

“Quero ser conhecida em Moçambique”

Selma Uamusse é cantora e intérprete moçambicana, nascida em 1981. Reside em Portugal desde 1988. «Fui a Portugal aos 6 anos de idade, por isso foi muito fácil a minha inserção na comunidade portuguesa. Minha mãe trabalhou durante algum tempo na biblioteca da embaixada em Portugal, então tínhamos muito contacto com moçambicanos. Mas eu assimilei a cultura portuguesa e também meus pais sempre me ensinaram a ter um coração aberto», revela.

Uamusse é casada há oito anos com um Belga «que conheci na Noruega. Nos conhecemos por causa da engenharia, tenho duas filhas, Alice e Ema», disse Selma.

As suas vindas a Moçambique tem vindo a aumentar de uns anos para cá. «Nos últimos anos tenho vindo mais, antes não vinha. Ano passado estive cá uma vez, antes (ano ante passado) duas, tento ao menos vir uma vez ao ano

Seu desejo é passar a vir mais vezes para «criar projectos cá e trazer a minha música. Quero que as pessoas me conheçam, porque a bandeira que eu levo para o mundo é moçambicana e não faz sentido não ser conhecida aqui», exprime.

Selma consegue estabelecer uma relação entre Moçambique e Portugal. «Portugal, uma sociedade muito mista, há restaurantes moçambicanos, Portugal é África da Europa, a informalidade, o calor das pessoas»,

Gostaria de voltar, mas sente que ainda não há estrutura para tal. «Tem que haver um circuito, não creio que Moçambique tenha esse circuito. Quero vir fazer residências, mas para vir morar, ainda não.»

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