Matei uma incerteza

matei incertezaConfesso, premeditei todos os meus actos. Foi a sangue frio. Foram semanas preparando. Ensaiei cada acto. Repeti em minha consciência cada movimento. Cheguei perto, respirei fundo, fechei os olhos eespetei uma faca. Olhei para o rosto dela e sente a sua dor. Não parei e lhe dei sucessivos golpes. Senti o sangue a escorrer entre os meus dedos. Senti a sua vida a desvanecer entre os meus dedos. Senti a sua respiração a se perder entre os meus dedos. Matei! Me internem. A prisão é pouco e não pode aprisionar a minha demência.


Texto: Hélio Nguane

Na rua me olham com desdém, pois têm a consciência dos meus actos. Eles sabem que sou diferente deles. Eles não têm esta perturbação que eu tenho. De noite não durmo, acordo na madrugada para criar mais um acto criminoso.

Minha perversão não tem remédio, até em locais públicos eu afio a minha faca em silêncio e crio mais um cenário macabro. Minhas vestes me denunciam, meus panos têm a mesma forma insensata dos meus actos. Meu cabelo é rebelde e tem a fúria de mil Somalis juntos. Meus actos têm a raiva de mil desempregados juntos.

Meus crimes não são meros desvios, são o caminho que escolhi e trilhei. Faço o que faço com intenção. O xipoco que habita o meu corpo é controlado pela sede que tenho de criar mais e mais. Nem mil cerimónias podem tirar de mim este ser que está em mim.

Já estou farto de me esconder, me levem. Infringi cada regra, cada padrão, cada estereótipo. Fiz arte, matei os ideias da sociedade e me tornei artista.

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