Por: Pedro Pereira Lopes
Um homem guardava uma garrafa de whisky velho para uma ocasião especial. Desde que a comprara, no estrangeiro
uma bebida de requinte, era um luxo de impossível existência no país, na época,
havia dez anos, que só lhe diminuíra um duplo, para certificar-se da qualidade,
e viu que era excelente.
Um dia, o homem recebeu um alto dignitário do Estado em sua casa. O visitante, um proeminente político e doutor, tinha feito os estudos na Europa e sabia, de certeza, apreciar os prazeres delicados. Havia alegria na casa, que honra sem par era aquela. Depois do jantar, com as vozes e o fumo de charutos de Cuba na atmosfera, o hospedeiro serviu dois copos da sua garrafa de whisky (fez mesmo questão de dispensar o auxílio da esposa e dos empregados).
Brindaram ao projecto do país que estava a ser construído.
Doutor, está a sentir o mesmo que eu, perguntou o homem.
Sim, respondeu o outro. Não é whisky! É chá!
E um insulto pesado ficou suspenso no ar.