Por: Pedro Pereira Lopes
O Conselho de Segurança estava tenso, era a primeira vez que os Serviços de Comunicação & Inteligência tinham conseguido captar uma mensagem de uma civilização viva. O líder supremo do planeta sentou-se e pôs a rodar o ficheiro de áudio:
“Alô alô Marciano…/ Aqui quem fala é da Terra/ Pra variar, estamos em guerra/ Você não imagina a loucura/ O ser humano tá na maior fissura porque…” e depois era apenas ruído.
Fez-se um silêncio desolante. Individualmente, os alienígenas repetiram o áudio nos seus auscultadores.
É um pedido de socorro, disse o general.
Sim, é o que parece ser. É uma língua arcaica, não muito complexa, é simples de descodificar. De acordo com a Agência de Geografia Interstelar, a mensagem é de um planeta da via láctea, um sistema quase morto, chamado Terra.
Mas nós não somos “marcianos”, disse um outro membro do Conselho de Segurança, indignado.
Sim, disse o general. Não somos. Eles chamam de Marte ao planeta Vermelho, Kukatz. É um planeta fantasma, não há vida em Marte desde que nascemos.
Houve um outro silêncio.
Não há como saber se é um pedido de socorro, líder supremo. Pode ser uma metáfora. O relatório da Agência de Geografia Interstelar identificou as ondas sonoras como “música”. É uma peça de arte, uma manifestação cultural. Não me parece que o mundo deles esteja à beira da extinção, disse o ministro das relações públicas interplanetárias.
Peça de arte, hein? Riu um outro ministro. Não podemos tentar entrar em contacto com o planeta?
Não, disse o líder supremo. Estamos a falar de um planeta pequeno. A mensagem é bastante antiga, equivalente a setecentas rotações estrelares. Pode ser que o planeta já não esteja lá.
E se enviássemos uma nave de reconhecimento, sugeriu um outro membro.
Não temos experiência, senhor, disse o general, podemos planear, se for em beneplácito deste Conselho de Segurança.
Meia hora depois houve uma votação. No dia seguinte, porque era urgente, partia uma nave com dois astronautas em direcção à Terra.
Brasil é o destino, não é, perguntou o co-piloto.
Sim, mas vamos antes para Moçambique, dá no mesmo, não dá? A Agência de Geografia confirmou que era igualmente um estado falhado.