Djambo: DEPOIS DA TEMPESTADE, CONTINUA A BONANÇA

Por Elton Pila
Djambo, documentário de Chico Carneiro e Catarina Simão, leva-nos aos tempos da luta de libertação e ao processo de reconstrução de Moçambique, pós independência. O guia desta expedição é um antigo guerrilheiro – fotógrafo.
 
A vida de Carlos Jambo (Jambo, assim, com J. O iniciado com D, advinha-se, é para dar pujança a pronúncia do título) dava, por si só, argumento para o roteiro de um grande filme. Ele alistou-se na Frente de Libertação de Moçambique, quando muito jovem. Por lá, formou-se em fotografia. Fascinado pela ideia de captar um momento, depois tê-lo no papel, fez a guerra empunhando a câmara e a arma.
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Chegada a independência, reformou a arma. A câmara passou a ser o seu instrumento de trabalho. Como fotógrafo acompanhou significativos momentos do país. Sobreviveu ao acidente de Mbuzine, mas não incólume, fracturou o braço. Impossibilitado de carregar a câmara, sem meios de subsistência, viu-se obrigado a mandar os filhos mais velhos a emigrarem, para desenrascar a vida além fronteira.
 
Hoje, sobrevive duma parca reforma (que demorara cerca de 10 anos para chegar) e do aluguer de quartos precários na zona dos pescadores.
 
O início do documentário dá conta daquele passado glorioso. O fim dá conta deste presente inglório, até injusto. Pelo meio muita água passa por baixo da ponte. Com fotos em riste, visita locais fotografados, aquando da guerra de libertação, encontra pessoas que o ajudam a reconstruir a História. Daí ressalta o maior mérito do documentário: a história do país contada sem a voz dos heróis de costume.
 
Um périplo por Tete, Cabo Delgado e Niassa desnudam o abandono a que estão votados locais históricos da luta de libertação. As árvores e o capim ameaçam suplantar o significado da História. Isto é trazido apenas pelos planos da câmara, sem os velhos sermões. O mais próximo que se chega disso (dos sermões) é na visita à fronteira de Ressano Garcia, onde foi assinado o célebre Acordo de Nkomati (1984). O local, pouco a pouco, vai se transformado em lixeira. “Onde está a valorização da nossa história?” questionará Jambo.
 
O encontro com ex-guerrilheiros que fizeram a independência tira o véu sobre a “marginalização” duma classe. Os guerrilheiros, menos pelo que dizem, mais pelo que evitam dizer, mostram um presente em contraste ao sonho que os fez arregaçar as mangas e empunhar armas.
 
A visita a um ex-campo de reeducação encontra um homem que para lá fora mandado a sua revelia, deixando, na zona sul, dois filhos e a esposa. Não mais voltou ao seio familiar. São os ossos do ofício na construção do Homem novo, lê-se, nas entrelinhas.
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Jambo já espera pelo dia da sua partida. No entanto, entende que tem a responsabilidade de deixar a História organizada para as gerações vindouras. Afinal, dos fotógrafos que registaram a guerra, só vivem ele (Carlos Jambo) e José Soares.
 
Na altura da guerra, conta-se no documentário, os fotógrafos não assinavam os seus trabalhos. O que pode significar dificuldade na reconstrução da História. A odisseia de Carlos Jambo busca, também, identificar o espaço, o tempo e os donos das fotos para uma organização cronológica do espólio fotográfico da luta de libertação.
 
O documentário que se quer mais uma pedra na narrativa histórica de Moçambique já passou pelo Instituto Camões, Fundação Fernando Leite Couto, Centro Cultural Brasil-Moçambique, em Maputo. Entretanto, espera-se que se leve para outras províncias e para as universidades.
 

Equipa técnica:

DJAMBO ..Fotografia e câmara: Chico Carneiro e Catarina Simão.

Som: Gabriel Mondlane.

Edição: Chico Carneiro e Catarina Simão.

Finalização de edição e correcção de cor: Chico Costa (Real Ficção, Lisboa).

Edição de som: Filipe Goulart.

Gráfico: Alex Rossini.

Pesquisa: Catarina Simão.

Produção: Chico Carneiro e Catarina Simão.

Produção executiva: Chico Carneiro.

Tradução: Ana Magaia e Ntaluma.

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