A ACTRIZ Lucrécia Paco volta hoje aos palcos, no Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Maputo,com a peça de teatro “Zambézia, 2061: La Cité de La Grande Revolution”.
Nesta exibição, cujo texto foi escrito e encenado por Alain Kamal Martial, será acompanhada pelo saxofonista Muzila e o percussionista Tony Paco.
“Zambézia, 2061: La Cité de La Grande Revolution” é um monólogo musicado que pode ser encarado como um texto poético sob forma de manifesto, que faz uma abordagem futurista de África.
A obra pretende celebrar as raízes do continente negro recordando as raízes para recordar o heroísmo dos antepassados e desenhar novas utopias.
A música, sopro e percussão, tem nesta peça um papel fulcral, pois suporta as emoções que o monólogo se propõe a transmitir.
O autor e encenador do espectáculo procurou criar uma ligação entre os dois elementos para que significassem o universo da Zambézia, de reivindicação e de reconstrução. Os instrumentos escolhidos sustentam essa vontade.
Nesta peça, o saxofone e a percussão pretendem conduzir a performance para a música negra e de reivindicação que representa África.
Alain Kamal afirma que procurou, na sua obra, fazer com que a música e o texto tivessem a mesma lógica e que significassem o universo da Zambézia.
A peça, que marca o regresso de Lucrécia Paco aos palcos, sete anos depois apresentar “O Regresso da Velha Senhora”, inaugura um conceito novo no trabalho do autor do texto.
“Alain quer usar o teatro como ferramenta para um propósito maior, convidar os espectadores a questionarem o estado das coisas, não quer mais escrever textos sobre pessoas”, lê-se numa nota de imprensa a que tivemos acesso.
“Mulher Asfalto”
A história nasce do real. Lucrécia Paco estava com o dramaturgo, em Antananarivo, Madagáscar, quando assistiu ao brutal espancamento de uma prostituta por um agente da polícia. A mulher caía no chão, levantava, caía, levantava, sem deixar de falar, querendo falar, exigindo falar. Alan escreveu o texto e a actriz deu vida.
O resultado é o seguinte: uma prostituta com uma arma apontada à cara, tempo antes de morrer, que se nega a condição de silêncio, a condição de não vida. É um trabalho sobre o direito à voz de uma prostituta, mas que amplifica a voz de todos os grupos marginalizados.
“Falam os políticos, os académicos, os sociólogos, mas o operário, quase nunca tem direito à fala”, lamenta Lucrécia Paco.
Entre nós, Alain ficou conhecido pelos monólogos “A Mulher Asfalto” e “Epílogo do Ventre”, peças também levadas ao palco por Lucrécia Paco.