Repensar a cidade de Maputo

A 10 de Novembro de 1887, por Decreto Régio do Rei de Portugal, nascia Lourenço Marques, cidade que depois da independência nacional foi baptizada, como Maputo, a 3 de Fevereiro de 1976, pelo saudoso Presidente Samora Machel.

O nome moçambicano, ao que se explica, é uma apropriação da designação do rio Maputo, que marca parte da fronteira sul do país. Felizmente, esta opção veio dar ressonância ao slogan “Viva Moçambique unido do Rovuma ao Maputo”. Rovuma é um rio que faz a fronteira, a norte, com a Tanzânia.

Na sexta-feira, essa cidade celebrou, com pompa e circunstância dignas da capital de um país, 130 verões! Aa festa estendeu-se ao longo do final de semana, nos mais diversos tipos de convívio, desde a refeição em família por baixo da sombra, no quintal, às festas de gala em salões e concertos.

Aos munícipes e “maputenses de coração”, endereçamos as nossas felicitações e os mais sinceros votos de que as comemorações tenham corrido sem sobressaltos

Mergulhando já na reflexão que nos guia esta semana, convidamos ao caro leitor a uma visita guiada a história para recordar que a, princípio, esta cidade foi pensada apenas para as elites coloniais, o que foi sendo mantido até a conquista da independência. Aos nacionais estavam reservadas as periferias.

Observando hoje, sem muito exercício, nota-se que a narrativa sobre a urbe vai sendo construída apenas com os ícones urbanos. Os protagonistas vindos da periferia, dos bairros de lata, foram sendo tidos como exóticos e exaltados, não simplesmente pela vitória,  entanto que tal, mas por terem derrubado as fronteiras bem claras a que foram impostas.

Em consequência, nota-se que, os actuais habitantes das periferias buscam, com raras excepções, mudar-se para o centro da cidade ou retirar-se para bairros de expansão. Poucos são os que permanecem, buscando melhorar as condições no mesmo espaço.

A impressão com que se fica é que estas gentes entendem a periferia como unidades alheias a cidade. São espaços tidos como ilhas. Expressões como “vou a cidade”, vindas, por exemplo, de um residente do bairro da Mafalala ou Maxaquene, são comuns, o que pode ser interpretado como uma das evidências desta suspeita.

Entretanto este conceito que limita a cidade apenas ao cimento, betão, prédios e asfalto, vai, gradualmente, caindo por terra, à medida que se encara o subúrbio como parte integrante – embora em condições desagradáveis – da urbe.

É neste contexto que se convida a repensar as cidades. As suas narrativas, neste sentido, devem passar a ser mais inclusivas, cedendo protagonismo aos personagens suburbanos e a cultura da periferia.

Qualquer olhar atento já deve ter notado a tendência de fusão, sobretudo, no ocidente, a nível das artes, por exemplo, das culturas das elites e a das classes que sempre foram marginalizadas. A leitura que se pode daí fazer é simples: são os diferentes extremos da cidade a dar-se as mãos.

O rumo que se pretende nestes diálogos é o assassinato de estratificações para que se possa unir ambos polos que, ocupando o mesmo espaço geográfico, foram sempre distantes e, em algum momento, até antagónicos.

No caso específico da cidade de Maputo, o Festival da Mafalala é que vai introduzindo este debate, ao exigir que se reconheça que a Mafalala é um dos fragmentos da urbe, que, ao que defendem, não se limita apenas ao “xilunguine”.

Repensar a cidade, com sentido de inclusão, neste contexto, passa por questionar, por exemplo, já noutras lides, em quem se está a pensar quando se trata das requalificações dos bairros suburbanos, uma vez que, durante e depois dos parcelamentos, os antigos moradores são atirados, sob alegação de desenvolvimento, para pontos bem distantes do centro, esquartejando a sua rotina e desestruturando os seus projectos.

Repensar a cidade, igualmente, seria minimizar as assimetrias sociais que corporizam estes territórios, dando, desta forma, oportunidades iguais e igualdade de circunstâncias a todos, apostando-se em políticas que democratizem o acesso a bens que possibilitem desenvolvimento.

No fundo, o tema, é mesmo Repensar Maputo, aproveitando o seu aniversário!

lEONEL2

Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.

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