Sentar Para Subir

Passam cinco meses que aceitei esta proposta. Deixei a empresa em que colaborava e cá estou a me aventurar nas Relações Públicas.

Foi, sem dúvidas, uma proposta incrível. Além da referência desta empresa, o salário permite organizar a minha vida e mexer algumas coisas na casa dos velhos, na Mafalala.

Fecho o relatório mensal. E noto que já está na minha hora do almoço. Coloco o computador a dormir. Antes de pegar na minha lancheira e partir para o refeitório, dirijo-me à casa de banho. Observo-me no espelho para ver se está tudo certo. Boldo o meu batom vermelho, a combinar com o meu casaco vermelho.

Ouço o abrir da porta. Penso que é a minha colega, já que pedi que esperasse por mim, para almoçarmos juntas. Então, começo a soltar as desculpas. Mas não é a Milena. É o meu chefe, hoje de fato azul e com o último lançamento da Nike, nos seus pés. Sempre a querer estar dentro dos padrões da juventude, mas o cabelo branco, as rugas e as costas enfraquecidas sempre denunciam sua idade avançada.

Não é a primeira vez que me procura na casa de banho para informar sobre relatórios, reuniões e tantas outras papeladas da empresa. Achei que viria para cima de mim, com mais uma tarefa, até quando tranca a porta e ficamos entre as quatro paredes cinzentas da casa de banho.

Passo por ele para destrancar a porta, quando sinto sua mão macia levantar minha saia e abrir uma janela na minha roupa interior. “Terás um aumento. Sei que vais gostar também, minha linda. Não faça barulho. Vou dar um pontapé na tua carreira. Posso ser o teu salvador, se me permites ” é a música que cantou nos meus ouvidos nos trinta segundos rápidos de sua diversão e prazer no meu corpo.

Não consegui mais almoçar. Perdi o petite. Tento buscar motivos para estar nessa situação. Corpo? O meu corpo não é avantajado. Roupas extravagantes? Sempre vim formal, desde o meu primeiro dia. Além disso, tentei estabelecer uma relação formal, para evitar situações desconfortáveis. Pratiquei isto na escola. Lembro que, nos tempos da academia, dediquei-me muito para não dar abertura a qualquer tipo de chantagem ou abusos. Lá eu consegui. Aqui as coisas não parecem ser lineares.

São quinze horas e temos uma reunião geral. Dirijo-me, novamente, à casa de banho e organizo o meu semblante para que ninguém perceba.

Sou a última a entrar na sala. Todos estão aqui. O chefe ordena que sente ao seu lado e cumpro. Durante a reunião, desvio o olhar dele, apesar de me encher de questões. Avalia as sugestões dos outros colegas, enquanto passa as mãos sobre as minhas pernas. Afasto-as de mim, mas insiste em continuar. Levanto-me para casa de banho, abro a torneira das minhas lágrimas e mergulho nelas.

E então, chefe Tavares, compraste-me com a tua proposta…

Isah Esmeralda

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