Um parasita nas minhas costas

Um parasita nas minhas costas

Algumas gotas de remorso na minha pele, o vento quieto acaricia os meus pelos, arrepia, traz a superfície alguns pensamentos. Tudo tão confuso, Katembe tranquila e eu corvo negro azulado desafiando a gravidade, vendo meu reflexo, cheio de sono, as minhas pálpebras pesadas fecham as mantas e volto a dormir.

Algumas gotas de suor passeiam, o vento entra pela janela, roça minhas costas, arrepia, traz a superfície uma dor insuportável por alguns momentos. Tudo tão claro, Inguide tranquila e meu corpo negro atordoado não tem como desafiar a gravidade, toma um banho cheio de pressa, as minhas roupas preferidas sujas olham para os trapos que vesti e me assistem a sair de casa a caminho do hospital e voltam a dormir.

Algumas gotas de sangue e sujeira escorrem minha pele, não há vento, a enfermeira inquieta exprime a elevação que está nas minhas costas, arrepia, traz a superfície alguns ensinamentos de medicina. Tudo tão confuso, este parasita da Katembe entrou na minha casa tranquila, apoderou-se do meu corpo, mas agora esta na mesa, enrolado entre véus hospitalares, ainda vivo, mas sem argumentos para desafiar a eternidade, cheio de raiva, olha para mim, vê que eu lhe fotografo, a enfermeira embrulha-o, deita no lixo, fecha, e reza para que, tranquilo, eu volte a dormir.

Algumas gotas de chuva caem na pele do meu quintal, o vento frio entra na minha sala, ocupa o espaço, quieto, acompanha a conversa de dois seres, tão próximos de se distanciar, arrepia perder, não há como trazer a superfície alguns bons momentos para resgatar a harmonia que a verdade vai silenciar. Tudo tão confuso, ela estranhamente tranquila olha para meu corpo negro estranho com amizade, não há atracção, com curativos nas costas, vejo a silhueta da tarde tranquila pronta para pisar a areia húmida, minhas pálpebras quase húmidas, pesadas fecham as mantas e volto a dormir.

Queria provar algumas gotas de gin, mas só coca-cola, o vento se transformou em brisa e sem gás não consegue ocupar o espaço entre eu e ela, quieto acompanha a conversa de dois seres, depois do distanciamento, arrepia perder, até tentei trazer a superfície alguns bons momentos para resgatar a harmonia, mas os factos são gritantes. Tudo tão confuso, ela estranhamente agressiva afasta-se do meu corpo negro, o ódio criou uma estranha atracção, com curativos quase desfeito nas costas, abraço-a, ela me afasta, abre a porta, desafia a noite, pisa a areia húmida, minhas pálpebras secas, sem sono, fecham as mantas e tento dormir.

Não consigo voltar a dormir, não consigo fechar minhas pálpebras, não há cheiro do sono, o corvo azulado bate a janela, vê seu reflexo enquanto desafia a gravidade. Katembe está agita, eu estranhamente tranquilo, queria estar mais confuso. Deito-me, acompanho meus pensamentos que passeiam na superfície, as mantas maltratam o meu curativo, fiz o certo, quem me dera ter gelo para beber estas gotas de remorso que apesar de tudo teimam em não sair da minha pele.

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