Apresentação do Livro “Fatia Fresca de Lua Nova”, Armando Artur e Pedro Pereira Lopes*

É com grande entusiasmo que vos apresento a obra poética “Fatia Fresca de Lua Nova”, que reúne os talentos de dois reputados poetas moçambicanos: Armando Artur e Pedro Pereira Lopes. Publicado em 2022 pela editora gala-gala edições, este livro é uma preciosidade literária composta por dois segmentos distintos, cada um dedicado a um destes notáveis poetas, que experimentam, através desta obra, a arte do haicai, uma forma poética originária do Japão, composta por três versos, conhecida pela sua concisão e pela habilidade de capturar a essência de um momento, cena ou emoção em poucas palavras.

O meu primeiro contacto com a poesia de Armando Artur deu-se através dos livros escolares de Português, que traziam fragmentos de suas obras iniciais, “Espelho dos Dias” (1986) e “O Hábito das Manhãs” (1990). A sua escrita envolvente e tocante cativou-me desde então, e poder apreciar publicamente a sua poesia em “Fatia Fresca de Lua Nova” é uma oportunidade ímpar.

Já o Pedro Pereira Lopes conquistou-me de maneira mais inusitada, por meio do grupo do Facebook “Pseudo-liricistas e Seus Adeptos”, onde compartilhávamos versos de Rap. Ao descobrir sua faceta de escritor, fiquei impressionado com a versatilidade da sua pena e sua capacidade de se reinventar a cada obra. O livro infantojuvenil “Kanova e o segredo da caveira”, o primeiro que li, permanece até hoje como um dos meus favoritos do autor.

Mas então, o que este livro nos traz e por que vale a pena lê-lo? Basicamente, esta obra escrita a quatro mãos é dividida em duas partes, cada qual com seu encanto singular. Na primeira parte, intitulada “HAI-KU-CÁ”, mergulharemos na poesia inspiradora de Armando Artur. Nestes poemas, o autor presenteia-nos com haicais que, segundo manda a regra, capturam a essência da natureza e do quotidiano de forma poética e introspectiva. Com a simplicidade das palavras, Armando Artur é capaz de evocar sentimentos profundos e imagens vívidas que, certamente, tocarão a nossa alma e coração.

Versos como “Solto-me do poema / como a chuva das nuvens. / Dentro de mim inunda-se!” revelam-nos a habilidade do poeta em transcender as palavras e convidar-nos a mergulhar no âmago da experiência humana. A ideia central deste haicai, tomado como exemplo, é a libertação e desapego do poeta em relação à sua própria criação poética, comparando-a à chuva que cai das nuvens. O poema é permitido a tomar vida própria, encontrando os seus próprios caminhos e significados, enquanto o autor transborda de inspiração e sentimentos que fluem para dar vida à poesia. É, essencialmente, essa ideia que se faz sentir ao longo da primeira fatia do livro.

Já na segunda parte, intitulada “magumbas badjias malambes”, deparamo-nos com a poesia ousada e original de Pedro Pereira Lopes, um escritor experimentalista. Os seus haicais apresentam uma combinação única de temas diversos, como a criação e a complexidade da existência humana. Em versos como “ilha vazia / raiar do teu corpo / na borda da ponte” e “telhado de caos / Deus é ateu / Ciclone de março”, somos conduzidos numa jornada poética que aborda a solidão, introspeção e a própria complexidade do mundo. Portanto, esses versos que, a meu ver, exalam toda a essência do poeta neste livro, não só revelam uma busca por inspiração e a consciência da importância da vivência para a criação artística, como também descortinam a atmosfera de turbulência e instabilidade vivida pelo homem, trazendo uma reflexão profunda sobre a sua natureza e a sua relação com o divino.

Os haicais de Pedro Pereira Lopes, portanto, encantam pela sua inventividade e desafio às convenções literárias, revelando o talento versátil do poeta em explorar novos caminhos na arte da poesia.

Como leitor familiarizado com o trabalho de ambos autores, posso assegurar-vos que “Fatia Fresca de Lua Nova” é uma coleção de poemas que enriquece não só poesia moçambicana, mas também toda a poesia em língua portuguesa. A combinação dos estilos distintos de Armando Artur e Pedro Pereira Lopes confere à obra uma riqueza e diversidade que, certamente, vos encantará. A sensibilidade poética de Armando Artur, consagrado na poesia moçambicana, contrasta com a inventividade de Pedro Pereira Lopes, que se destaca pelas suas abordagens ousadas.

Portanto, se procurais uma leitura que emocione, provoque reflexões e deixe uma impressão duradoura, “Fatia Fresca de Lua Nova” é o livro certo para vós. Adentrai este universo poético único, repleto de haicais que capturam a essência da vida e da alma humana, tornando-se uma referência significativa na literatura lusófona. Preparai-vos, portanto, para serdes tocados por versos que transcendem o tempo e serão servidos como uma fatia fresca de lua nova no céu da poesia.

Para concluir, gostaria de desejar muito sucesso aos poetas Armando Artur e Pedro Pereira Lopes nessa nova empreitada literária.

Lichinga, 28 de julho de 2023

Emílio Cossa

Editor

*Apresentação feita durante a 1ª Edição do Festival Literário do Niassa, FELINI 2023, realizado pelo CEPAN – Clube de Escritores, Poetas e Amigos do Niassa, entre os dias 28 e 29 de Julho de 2023, na Cidade de Lichinga, Província do Niassa.Top of Form

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