“Quem somos” é a proposta de Reinata Sadimba a ver-se na Fundação “Leite Couto”

Uma das maiores artistas moçambicanas vai expor as suas mais recentes criações numa mostra intitulada “Quem somos”, a inaugurar próxima quarta-feira, 09 de Agosto, às 18 horas, na Fundação Fernando Leite Couto.

Reinata Sadimba, cuja obra transcendeu as fronteiras de Moçambique dedicou-se a criar obras com uma narrativa e estética que remetem à essência humana: as relações, a união, a família, as faces que simbolizam vidas e vivências de pessoas da sua terra que sempre procurou retratar com uma peculiaridade que só o seu talento pode.

A curadora da exposição, Yolanda Couto, explica que “as figuras, de formas exageradas e feições mal definidas são a representação do mistério sagrado onde, por vezes, se condensa uma profunda humanidade fantasiosa e trágica. As tatuagens que cobrem o seu rosto e as suas obras denunciam a sua ascendência e as gerações que a precederam. São marcas da sua terra.”

Em “Quem somos”, a ceramista, mais do que moldar os corpos, faz uma representação de estórias que ligam o tradicional ao moderno.

Procura sempre recordar-nos de onde viemos, a mulher como o núcleo da família e a família como o pilar para a sociedade. Justamente a sociedade que vive os tempos modernos repletos de desafios que, uns a serem de bom proveito e um processo natural de transformação, outros, a serem um mal que corroe e ameaça a coexistência, a harmonia, os valores, as tradições e costumes.

Sobre os trabalhos que vão estar patentes nesta exposição, a curadora recorda as origens da Reinata para uma compreensão maior do que nos dizem as obras. Mueda foi onde tudo começou. “Foi a simbiose com a terra que a viu nascer que invadiu a sua alma e o seu cérebro espontaneamente genial, tal como se fosse a seiva que corre nas entranhas das árvores seculares que a protegeram e lhe deram sombra.”

A curadora, explica ainda que “as peças moldadas no barro, surgem, mas suas mãos, referenciando a história dos materiais que vemos através do continente africano e fazem predominar os sentimentos fortes que proclamam a consciência do passado, mas que acompanham a actualidade.”

“Reinata Sadimba é ela mesma a poesia e a prosa. É guerreira, Mulher e Mãe é a terra de África.”, finaliza Yolanda Couto.

Reinata Sadimba nasceu no dia 01 de Janeiro de 1945 no povoado Makonde de Nimu, no planalto de Mueda, na província de Cabo Delgado, em Moçambique. Os seus primeiros contactos com a cerâmica acontecem de forma artesanal na fabricação de objectos utilitários, característicos dessa região, tais como os potes, usados pelas mulheres para o transporte de água e pequenas panelas para a preparação de alimentos.

Muito jovem, em 1968, ingressa na vida militar no distrito de Mueda, fazendo parte do grupo de mulheres que tinham como missão o transporte do material de guerra que se fazia-se entre Ncunha na Tanzânia para a Base Central da FRELIMO e para Banza, durante a Luta de Libertação Nacional.

Finda a guerra e obtida a independência de Moçambique, Reinata muda-se de Cabo Delgado para Inhambane na companhia do marido, mas, sendo sujeita a maus-tratos, separa-se e regressa para Mueda onde, segundo ela própria nos conta, Deus (Nungu) a inspirou, num sonho, para que fabricasse um pote em forma de obra de arte. Diz-nos ela que acordou e, de imediato, pegou no barro, começando a fazer a obra que tinha aparecido no sonho daquela noite.

 Assim tem início a carreira artística de Reinata Sadimba, com uma profunda transformação na sua produção de cerâmica.

Devido à guerra civil dos 16 anos, é obrigada a emigrar para Tanzânia, onde, apesar de inúmeras dificuldades e privações, com o auxílio do então Embaixador da Suíça na Tanzânia, Marx Honnega, continua a fabricar as suas obras, e a trabalhar o barro.

Em 1992 por convite do Governo Moçambicano Reinata Sadimba regressa a Moçambique.

Em 1992 realiza a sua primeira exposição individual, na Galeria AFRITIQUE na Cidade de Maputo.

Em 1994 realiza em Londres a sua primeira exposição internacional.

Presentemente continua a trabalhar na cidade de Maputo e está representada a nível mundial, nomeadamente, no Reino Unido, Estados Unidos, México, Itália, França, Suíça, Brasil, Portugal, Ilhas Reunião, Namíbia, etc      

Em 2004 a foi-lhe atribuído o título de Doutora Honoris Causa pelo ISArC (Instituto Superior de Artes e Cultura), tendo lecionado na Universidade Pedagógica durante dois (2) a Cadeira de Artes.

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