Poeta Militar ameaçado por causa d’ “As Ancas do Camarada Chefe”

O escritor moçambicano Sérgio Simão Raimundo (Poeta Militar), vencedor da 3.ª edição do prémio Eugénio Lisboa, queixa-se esta quinta-feira de ameaças devido ao título da sua nova obra: “As Ancas do Camarada Chefe”.

“Recebi chamadas anónimas e a pessoa que as fez questionava-me se eu queria mesmo lançar este livro. Eu respondi que sim”, contou na entrevista que deu a Lusa. Quem ligou ainda perguntou ao Militar o que era mais importante para ele: “estar eu a circular por aqui ou o meu livro”.

Aconselhou-me, prosseguiu o escritor, a suspender o lançamento. E acusou-o de estar a ser pago pelos portugueses, “já que passo mais tempo agora em Portugal, para vir criar agitação em Moçambique”.

Militar, de acordo com a Lusa, assumiu ter se sentido assustado e por essa razão desligou a chamada na cara do desconhecido que o contactara. A razão das ameaças é a publicação do livro “As Ancas do Camarada Chefe”.

A ser lançado na próxima segunda-feira, em Maputo, é um um conjunto de crónicas, entre textos inéditos publicados, sobre questões sociais moçambicanas que afetam sobretudo a juventude.

“O que eu noto é que as pessoas estão a fazer uma analogia literal do título, associando-o ao Presidente da República [Filipe Nyusi]”, explicou o autor, em alusão ao facto de “camarada chefe” ser um termo usado para identificar diferentes lideranças no partido no poder (Frelimo).

O livro, que já foi lançado em Portugal em maio, devia ser apresentado por Jorge Ferrão antigo ministro da Educação e atual reitor da Universidade Pedagógica (UP), que terá manifestado, no último momento, indisponibilidade.

“O Professor Jorge Ferrão disse-me que estava a receber muitas mensagens de pessoas a interpretarem mal o livro por conta do título, tendo em conta que é familiar da primeira-dama, Isaura Nyusi”, contou Militar.

Ferrão, continua o escritor, disse que estava firme e que faria a apresentação do livro mesmo assim. Mas numa destas madrugadas escreveu-lhe uma mensagem a avisar que não faria mais a apresentação do livro”.

Posteriormente convidou ao engenheiro e escritor Álvaro Carmo Vaz para fazer a apresentação da obra “As Ancas do Camarada Chefe”.

A Rede Moçambicana dos Defensores de Direitos Humanos condenou as alegadas ameaças ao jovem escritor moçambicano, apelando para uma investigação para responsabilizar os autores das mesmas.

O escritor disse à Lusa que pretende apresentaruma queixa formal na polícia devido às ameaças.

Sérgio Simão Raimundo, 30 anos, foi o vencedor da 3.ª edição do Prémio Literário Imprensa Nacional-Casa da Moeda/Eugénio Lisboa, ao qual concorreram 12 textos, pelo inédito “A Ilha dos Mulatos”.

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