Paraquedista perdeu voo 

Conseguiu o visto, com ajuda dos assessores, Leonel e Amosse, fechou a documentação, só falta arrumar a mala. Ainda não vedou quintal por completo, tem de deixar o carro na garagem da vizinha. Amanhã Jota vem levar Paraquedista as 7h.

Já são 20 horas, mas carro não pega, é problema de bateria. Insiste, Jota desiste e vai cortar cabelo. Persiste, carro começa a rosnar as 21:40. Vai a estrada, pois carro não tem tração para desafiar mato e entrar em casa da vizinha. Dirige tranquilo, 30 de velocidade. Entra na rua da vizinha, passa da casa e culpa iluminação. Tem de fazer manobras, faz manobras, consegue, coloca o carro no D, tira chaves, abre a porta, sai, olha para o portão da vizinha, volta para o carro, mas carro está morto e deduz que é combustível. Olha para a rua e percebe que o Civic está no meio da estrada. Bate portão da vizinha, sai o filho da vizinha, que diz que solução e comprar combustível. Já está nas bombas, polícia de transito olha para os dois meninos, mas fixam um olhar radiográfico e escaneam todos os cabelos de Paraquedista.
Moça preguiçosa coloca cinco litros no recipiente. Retornam, na entrada da rua, carro de vizinha perde força, Raum já é velho. Brincam de empurrar, avançar e recuar. Depois de 40 minutos, carro de vizinha consegue transpor o obstáculo. Paraquedista coloca combustível, coloca as chaves, vira, mas carro não pega. Filho de vizinha aparece, coloca carro no “P”, vira a chave e carro pega. “Não era combustível”, disse calmo. Paraquedista cava um buraco e coloca sua cabeça, cabelos ficam cheios de areia e filho da vizinha sacode: “Acontece. Carros tem dessas”. Mete o carro no quintal, deixa as chaves, pois serão semanas fora do país. 

Volta para casa, já são 22:57. Pensa em arrumar a mala, mas está com fome. Come o que encontra, olha para o ecrã do celular e Jota repisa que vai passar às 7h00. Come às 00h10, coloca as poucas roupas que tem na mala, não tem calções e chinelos dignos, por isso isola a ideia de coloca-los na mala. 

Acorda as 7:43, vê as chamadas de Jota, que farto de ligarpartiu. Sair de casa molhar o corpo, mas corrompe a hipótese. “A viagem é as 15:30”.

Fica em casa, arruma o que pode, já são 10h00. Recebe chamada, um amigo lhe explica que tem de chegar no Aeroporto 3 horas antes. Sai as pressas de casa, nem molha corpo. Fica uma hora a espera de transporte e decide andar a pé. Depois de 45 minutos a caminhar, um camião quase lhe atropela. Fica sentado num canto isolado, respira fundo por 10 minutos, ganha folego e volta a caminhar, já são 12:27. Chega na rotunda, cansado, espera pelo transporte, que só chega as 13:13. Olha para o relógio e decide entrar no semicolectivo às 13:15. O carro não vai directo a baixa da cidade de Maputo, passa pela junta. Olha para o relógio quando o carro chega no terminal da baixa, já são 14:25. Depois de 20 minutos a espera, paraquedista sobe chapa, às 15:19 está na Praça dos Heróis, anda com mala pesada. Chega no local de check in, depois de perambular pelo aeroporto sem rumo: “O voo já partiu”, aquelas palavras são laminas acariciando e rompendo as veias dos seus pulsos. Senta, pensa em ligar para as pessoas do festival, mas desiste. Liga para Eduardo, que lamenta e aconselha calma e ponderação. Liga para Leonel, que diz que o melhor é ligar para o Brasil a pedir novo voo ou participação online. 

Liga, Sérgio fica indignado e diz que não existirá outro voo e que participação on-line carece de consulta. Paraquedista volta para Katembe. Ao abrir porta de casa recebe confirmação de Sérgio, “vai participar on-line”. Liga para Eduardo e pede para que Photoshop algumas imagens, para que pareça que paraquedista está no Brasil, pois não tem cara para enfrentar todos. Eduardo nega, mas Paraquedista é chantagista. Paraquedista envia 10 fotos na praia dos Amores e dunas da Katembe, Eduardo envia 9 fotos de Paraquedista na Praia de Copa Cabana e uma perto do Cristo redentor. Tranquilo, paraquedista adormece, acorda com a chamada de Jota, são 6:45: 

– Vamos, já estás pronto para a viagem?

– Sim estou!, – responde Paraquedista, em posição e continência. 

– Então espera, volto para a casa e quando retornar avançamos. 

– Está certo.  

Jota retorna às 7h05, os dois sobem o carro. No caminho paraquedista liga para táxi, pedi que lhe venha levar as 11h20 no trabalho de Jota. 

– Fica calmo amigo, vais viajar para o Brasil. 

– Sonhei a perder voo. 

– É apenas um pesadelo. 

– Mas era tão real.

– Respira fundo, reza que tudo vai dar certo. 

– Obrigado. 

Paraquedista já está no Brasil. No último voo, que saia de São Paulo com destino ao Rio, paraquedista escreveu o pesadelo que teve, mas só hoje decidiu partilhar. 

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