Cinco dias de um diário que poderia ser meu

Dia 4

Queria ter um volume, um maço de fôlego para terminar todos textos que tenho pendentes. Elton ligou, vi, ignorei, pensei em abrir o laptop, mas minha desconcentração tirou-me do sofá, fez-me visualizar o sol tímido, as árvores arrogantes e minha Gala-Gala tranquila nos interstícios dos blocos da fundação dos medos que raramente enfrento.

Fecho a porta. Abro a porta. Mexo a porta, deixo entre aberta, o lap top entre aberto, deitado no sofá que acomoda minha procrastinação. A série é viciante, mas não estanca a sede: quero quatro cervejas, geladas, mas calorosas, que borbulhem um pouco de tranquilidade neste dia tão sem fôlego.
Depois do último gole da terceira tenho algo a declarar:
Estou feliz, já não trabalho aos finais de semana.

São 19 horas, mas meus olhos estão pesados, fecho por quatro segundos e já é domingo: 3:45 da madrugada. Tento assistir a minha série preferida, mas o sono me vencia no minuto 6 do episódio (Fubu) de Atlanta. Depois de tentar cinco vezes, decidi dormir, consciente que tenho um compromisso, prometi algo a Deolinda, às 8, Dinéria me quer na igreja, às s 12:00. Acordei depois de segundos, o sol estava envergonhado, espreitava das cortinas. Lavo os dentes com alguns goles de cerveja, abro a porta, vejo a rua tranquila, abro o laptop:
“já são 12:42. Como explicar a Deolinda que não vou poder lhe acompanhar e a Dineria que perdi a hora?”, disse em voz alta, gritando para a criança sem argumentos que vi no espelho.
– És humano – tranquilizou-me o Leonel.
Tranquilo, tomei mais goles de mais um final de semana da minha vida.

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top