Chico Sales reflecte a mulher moçambicana

0
350
Título: A procura da água Técnica: Óleo sobre tela Medidas: 70x90cm Ano: 2018

Ao amanhecer a Maria vira-se para a cabeceira e olha para o relógio, são 8h30 e volta ao cochilo. Quando o amanhecer ainda se está a decidir se tira os primeiros raios solares, a Maimuna já está a arrumar a sua banca de verduras no mercado. Quando amanhece a Guilhermina, executiva, se debate com a inflação e coisas mais dos planos estratégicos da empresa que dirige. Quando amanhece, cada uma delas inicia a sua nova jornada.
São todas elas mulheres moçambicanas, que quando o dia começa, seguem viagens destintas, não apenas em termos de espaços físicos ou geográficos, mas também de contextos, de imaginários e vivências.
“Viagem no plural”, exposição individual de pintura da consagrada Chica Sales, a inaugurar no dia 09 de Março, na Fundação Fernando Leite Couto, pode estar a tentar reflectir sobre as mulheres acima referidas e outras com as quais nos cruzamos, conhecemos (ou somos) no quotidiano moçambicano.
Nesta que é a segunda mostra do ano, depois de “A batota dos sonhos” de Manuela Madeira, conforme António Barros Júnior, que assina o texto de apresentação através de “pinceladas a óleo ou aguarela, com cores leves e suaves, as vezes com a cor crua do carvão do lápis, a Chica transporta para a tela ou para o papel reciclado, utilizando as diversas técnicas, o quotidiano, a luta, a serenidade, as dificuldades e as virtudes, a perseverança da mulher moçambicana simples, porém batalhadora nestas viagens”.
A artista, observa o autor do texto, inspira-se nos saberes da sua mãe, que lhe contou e conta infindáveis histórias de vida das mulheres que por este país têm de fazer o milagre da multiplicação do pão para a sobrevivência das suas famílias muito alargadas, como são a maioria das famílias moçambicanas.
Chica Sales é o nome artístico de Francisca Sales Machado. A artista plástica nasceu a 28 de Fevereiro de 1964, no distrito de Panda, na província de Inhambane. Chica Sales tornou-se artista em 1996. Tinha, nessa altura, 32 anos de idade.
Unindo tinta e versos, escreveu Silêncio gritando, um livro de poemas e pintura. Além da vocação atinente às artes, Chica Sales também é uma mulher do desporto. No passado, representou a selecção nacional de basquetebol, bem como o Costa do Sol e Ferroviário da Beira, nas modalidades de atletismo, ginástica e basquetebol.
Em termos académicos, Chica Sales é formada pelo Instituto Industrial de Maputo no Curso Técnico de Construção Civil – Vias de Comunicação e Hidráulica, em 1984. Nos Estados Unidos de América, formou-se em Desenho de Interiores e Decoração, pela Patrícia Stevens School of Interior Design e Fashion Merchandise e pela New York School of Interior Design. Chica já expôs 16 vezes em individuais 23 vezes em colectivas, além de Maputo, nas seguintes cidades: Argel (Argélia), Beijing (China), Brasília (Brasil), Berlim (Alemanha), Cape Town, Joanesburgo, Pretoria, Sandton (África do Sul), Lisboa (Portugal), Madrid (Espanha), Miami (Estados Unidos).

Artigo anteriorMarizza e o artifício de ficção como transmutação genealógica: entre o burilamento do ser e da linguagem e os seus desdobramentos
Próximo artigoVamos cantar juntos, amanhã
É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here