Lançado o concurso infantil “Ler e Brilhar”

Ler é viajar, estar noutros mundos, sentir outros cheiros e conhecer novas realidades, a bordo de um livro. Quem lê interage com gentes e ambientes reais, bem como imaginários, e impulsiona as técnicas de comunicação, através do enriquecimento do vocabulário.

Consciente de que o exercício da leitura está intrinsecamente ligado à escrita, a escritora e activista social, Lídia Mussá, criou a iniciativa “Ler e Brilhar”, com o objectivo de aproximar o público infantil aos livros e, igualmente, instigar hábitos de leitura e escrita desde a tenra idade.

Trata-se de uma ideia que existe há quatro anos, procurando não só em promover a literacia, mas também a inclusão de crianças e outros grupos sociais vulneráveis.

Lançada ontem, no Colégio Educare, em Maputo, “Ler e Brilhar” abrange, numa primeira fase, alunos da 3ª a 7ª classes daquela instituição de ensino, seus respectivos encarregados de educação e professores.

A ocasião coincide com o lançamento do concurso literário Infanto-juvenil, com o mesmo nome da iniciativa, para o qual foram submetidos cerca de 70 textos, de poesia e contos, escritos por menores dos 8 aos 11 anos.

“As crianças prepararam-se. Principalmente as crianças da terceira classe. Encontrei textos criativos e audaciosos o que me deixa certa de que é importante incentivarmos os novos filhos à leitura,seja através dos livros físicos ou mesmo do celular”, contou Lídia Mussá, durante o lançamento do “Ler e Aprender”.

Após a submissão, os escritos passaram pela avaliação do corpo de júri, composto por professores e o poeta Nelson Lineu, onde foram selecionados os 30 melhores textos que vão corporizar uma obra literária a ser lançada no início do próximo ano.

Dos 30, os primeiros 10 farão parte de uma sessão de entrevistas, na próxima semana, onde serão anunciados e premiados os 3 melhores textos.

Por acreditar que as artes desempenham um papel fundamental na educação e que, da mesma forma, a família, como núcleo base da socialização, tem a responsabilidade de imputar no indivíduo condutas alinhadas à sociedade, a iniciativa encoraja o acompanhamento dos pais e encarregados de educação na descoberta de habilidades dos seus educando.

Ler parte de casa

Laurinda Isaías é professora da primeira classe, no Colégio Educare. Trabalha com o público de palmo e meio, há anos, desenvolvendo iniciativas de iniciação à leitura.

É mãe e encarregada de educação de uma criança de 8 anos, participante do concurso “Ler e Brilhar”.

“O gosto pela leitura na minha filha partiu de um livro que eu dei de presente. Ela, juntamente com o pai, foi lendo e desenvolvendo interesse pelas letras, e hoje está neste concurso por iniciativa própria”, contou.

Laurinda explica que a filha interessou-se pelo concurso “Ler e Brilhar”, logo após ouvir a professora a falar sobre mesmo. “Ela e as colegas foram fazendo poemas na sala e em casa”. Como professora, reconhece o seu papel no cultivo da cultura de ler, sobretudo em crianças.

“A leitura é muito importante, sobretudo para as primeiras classes. Incentivamos a leitura, dando livros infantis, para que as crianças pratiquem”, destacou.

É possível moldarmos as crianças

No mesmo pensamento, alinha o Raimundo Quive, professor da língua portuguesa há mais 20 anos, ligado ao Colégio Educare desde a sua fundação, em 2018.

Na sua visão, trabalhar com textos literários escritores à mão e, sobretudo, por crianças, é uma experiência desafiadora, porque são pessoas que não têm, ainda, uma estrutura cognitiva amadurecida.

“Vi, nos textos, muita imaginação, criatividade e, também, que as crianças conseguem traduzir os seus sentimentos e pensamentos no papel, isso é muito importante”, defende.

São muitos temas, prossegue, aqui apresentados. Desde as crianças de Cabo Delgado, o bulying e outros com que elas convivem diariamente. “Devemos moldar a criança em tenra idade para cimentar uma sociedade letrada”, disse.

Raimundo Quive acredita que os grandes problemas relacionados a falta de leitura e escrita no país derrivam, necessariamente, da falta de incentivo desde criança.

“Durante as festas infantis, aniversários ou, mesmo, no primeiro de junho, nós não conseguimos comprar um livro para ofertar aos nossos filhos. Comprar todo um conjunto de objectos que não incentiva a leitura”.

Há que expor os talentos que temos

“Não há como separar a literatura da educação”, reagiu a diretora do Colégio Educare, Suzana Rita, a respeito do lançamento da primeira fase do projecto “Ler e Aprender”, na instituição de ensino que dirige.

A então jornalista e professora conta que, apesar das limitações sociais  ligadas às dificuldades na educação, há que pôr a mão na massa e contribuir para o desenvolvimento do país.

“Nós, como cidadãos, temos que procurar limar e melhorar as fragilidades. Por isso, estamos aqui, como instituição privada, a fazer o que, se calhar, devia ser o Ministério da Educação ou da Cultura a fazer”, afirmou.

Suzana destacou a interdisciplinaridade artistica como um elemento importante para a educação infantil.

“Quanto mais cedo se investe, melhores resultados teremos no futuro. Não é só pelo gosto pela leitura. É dentro da leitura que vais encontrar obras que, mais tarde, te orientem profissionalmente”. Nos primeiros anos, acrescenta, as pessoas sonham muito. “É bonito que a criança, a partir dos seus sonhos, comece a pesquisar”.

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