Pensar a dimensão histórica da Restituição

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Fotografia de Júlio Marcos

A I Exposição Colonial Portuguesa, realizada na cidade do Porto, Portugal, em 1934, no Palácio de Cristal, ainda é um facto histórico desconhecido em Moçambique, lamentou o antropólogo Marílio Wane, na inauguração da exposição “Restituição e repartição na identidade pós-conflito – Ngonani mu ta wona: uma viagem no tempo ao palácio das colónias”.

“Trazer estas imagens no contexto de um seminário sobre Restituição é também uma proposta de pensar esta ideia não apenas na sua dimensão material, que seria a devolução de objectos ou artefactos”, prosseguiu o pesquisador que reuniu 15 fotografias em preto e branco sobre esse episódio, agora expostas nas grades dos Centros Culturais Franco-Moçambicano (CCFM) e Alemão-Moçambicano (CCMA), em Maputo.

Chamar atenção para o facto de que a documentação e a informação da história do país também fazem parte desse conjunto de património e merecem ser conhecidos é outra perspectiva que Marílio Wane pretende explorar com a exposição.

Estando a mostra nas grades exteriores do CCFM e do CCMA, para o pesquisador, é uma proposta interessante para que os citadinos e transeuntes daquelas cercanias possam ter acesso a essa informação, que poderia estar escondida “numa sala de exposição”.

Com efeito, “espero estimular a curiosidade das pessoas sobre este conteúdo, [que] está no contexto das minhas pesquisas sobre o património cultural de Moçambique, estando neste momento a fazer uma sobre o Xigubo depois de ter feito sobre a Timbila”.

A expectativa de Marílio Wane é estimular a produção de mais pesquisa nessa área, pois esta exposição não representa um porcento do que há de informação sobre Moçambique e da construção de uma identidade do Império português e o seu contexto colonial.

Na mostra, há fotografias que retratam Orquestras de Timbila a executar a sua música, mulheres e crianças próximos das suas palhotas que para lá foram levadas intactas do país para simular o ambiente originário daquelas pessoas.

“Ngonani mu ta wona” estará patente nas grades dos jardins do CCFM e do CCMA até ao dia 10 de Dezembro de 2021.

Esta exposição está integrada no Ciclo de Debates sobre “Restituição e reparação na identidade pós-conflito”, organizado pela plataforma Mbenga Artes e Reflexões e a Oficina de História de Moçambique, a pesquisadora Catarina Simão, o antropólogo Marílio Wane, Otilia Akino com apoio do Centro Cultural Franco-Moçambicano, CCMA-Centro Cultural Moçambicano-Alemão, Goethe-Institut Nairobii, Africanofilter, Campanha Raise up! Mozambique (Gofound).

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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