Outros lados da moeda

Pode a morte de um de um ser humano alegrar um país? Deixe-me reformular a pergunta, pode a morte trazer esperança? Não sei. Talvez. Temerariamente, sim. E foi isso que aconteceu na Líbia, a morte de Muammar Gaddafi reacendeu a esperança de muitos líbios que viviam isolados. É o caso de Ashur Shamis, exilado em Londres por causa do regime. Viu a sua vida em risco, a sua cabeça era cobiçada, valendo uma recompensa de um milhão de dólares. Era o preço de ser da oposição num país em que ser do contra era vestir a capa de cão vadio e caminhar com a cauda entre as pernas longe da vista de quem decide.

Para que conste, o jornalista e activista político Ashur trabalhou com a Frente Nacional de Salvação da Líbia, grupo fundado em 1980, que não só fez campanha contra, mas tentou golpes contra o ditador.

Assistir ao documentário “The Coronel’s Stray Dogs” é ver a fundo um lado da moeda amplamente divulgado, que mostra que a democracia não residia na Lídia, pois um ditador estava no comando. No entanto, o filme traz um quesito a mais, focando numa personagem: Ashur Shamis.

Dirigido por Khalid Shami, a película de 74 minutos questiona o custo da oposição de décadas e o eventual retorno a uma Líbia irreconhecível à beira de uma guerra civil. O documentário é também a busca de respostas de um filho que não tinha certeza sobre o trabalho de seu pai, nem as suas agendas de viagens e, especialmente, o conteúdo de seu estudo restrito.

O filme mostra as interrogações contundentes de um filho que viu o pai a reservar parte de seu tempo não para a família, mas para buscar a queda da peça fundamental do regime líbio, Gaddafi. Mas do que contar a história da morte do regime de Gaddafi, o documentário traz o retracto de uma família que tem ressentimentos, magoas e muitas perguntas a fazer para o chefe de família.

A película é mais pessoal e intimista, traz depoimentos de parentes, vídeo doméstico, entrevistas pessoais aos membros da família de Ashur Shamis. As extensas imagens de arquivo de televisão, são apenas para contextualizar a reposição de Gaddafi, em 2011.

Um aspecto que não escapa é música original composta por Tiago Correia Paulo. Os sons psicadélicos dão outro sentido as imagens em movimento. Sem dúvidas, o documentário é um óptimo retracto para quem quer ver o outro lado da moeda.

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