Descolonizar a memória através da música tradicional, da fotografia…Up Cycle 2021

Preocupado com a relação do homem, o saneamento do meio e as alterações climáticas o fotógrafo cabo-verdiano, Diogo Bento, propõe uma incursão pela “História da Arte da Botânica”, no trabalho que levou para a exposição Up cycles 2021, na Fortaleza de Maputo.

Através da fotografia, Diogo Bento constrói um percurso trilhado numa abordagem crítica em torno da exploração de recursos naturais, durante a colonização, feita de várias formas, entre as quais o monopólio de conhecimento sobre as plantas.

Esta mostra foi concebida a reflectir sobre os arquivos coloniais e a procurar entender a influência desta arte durante o período de domínio europeu, em África. “Fiz uma pesquisa no Instituto de Investigação Científica e Tropical e o Arquivo Histórico Ultramarino. Comei a confrontar estas imagens com as minhas próprias fotografias e descrevi um percurso que vai desde o início da fotografia até a contemporaneidade”, explicou. “Eu confronto, questiono e procuro entender o meu papel na descolonização do olhar, através da fotografia”, finalizou.

Bento Santos é fotógrafo, curador e produtor cultural. Desenvolve projetos em Cabo-Verde, como a residência artística Catchupa Factores e exposições. Participou na exposição UPCycles 2021 para onde levou sua obra que estará exposta até ao dia 10 de Novembro.

Reciclar a música tradicional africana

Luís Santos, artista plástico moçambicano, experimentalista na escultura com cimento, madeira e outros materiais. Nesta exposição optou por arquivos audiovisuais, disponíveis na discoteca da Rádio Moçambique (RM), e concebeu duas obras, designadamente “Sons de um Lugar”, escultura de metal e “Canta Meu Irmão”, cerâmica.

Trabalho de Luís Santos

As obras que expos no UPCycles foram criadas a ouvir o vinil de música tradicional moçambicana “Canta meu irmão, ajuda-me a cantar”, de 1982, gravado por ocasião do primeiro Festival Nacional de Música tradicional moçambicana, no mesmo ano.

José Cardoso foi um escritor que Santos leu enquanto produzia e nisso constatou que a cabaça é um elemento “muito presente na música e hábitos tradicionais moçambicanos, pois estão presentes no âmbito doméstico, alimentar e artístico, para produção da Timbila, por exemplo”.

O processo, contou ao “Mbenga”, foi elevar a cabaça que tinha a mão para criar uma peça que é uma grande cabaça de chapa e outra que são 19 cabaças em cerâmica que é outro elemento muito usado pelas populações rurais.

Questionado sobre a experiência de interpretar uma obra de um dos nomes sonantes do cinema moçambicano, no caso José Cardoso, autor da obra “O vento sopra do Norte” Luís Santos retrucou que foi uma tarefa difícil, entretanto devido às qualidades do cineasta moçambicano, “é difícil não gostar das suas obras, porque é muito respeitador, e é difícil não se envolver com ele”.

Luís Santos

Luís Santos é artista plástico moçambicano, formado em Escultura, pela Faculdade de Belas Artes, em Portugal. Iniciou a sua formação no Instituto de Artes Visuais e Cultura, em 2011, e tem feito exposições desde 2017.

Yassmin Forte, fotógrafa, optou por levar ao UPCycles uma mostra fotográfica baseada na história do seu pai, jovem português que viveu em Lourenço Marques e não mais voltou para Portugal. Para conceber o trabalho, intitulado “Avenida Samora Machel, Nº 55 (1985-2021)”, o endereço de sua infância, Yassmin Forte abordou o facto o seu pai (João) estar a viver na mesma casa, há 35 anos, com os mesmos móveis e a casa intacta.

Yassmin Forte

A fotógrafa pegou nas fotos actuais e nas mais antigas (dos tempos da tropa do pai), para levar os visitantes da exposição a uma viagem ao tempo da sua infância. Forte descreveu que trabalhar com o arquivo familiar viveu uma experiência única.

“É como se eu estivesse a descobrir um outro lado de mim. O que tenho de mais grandioso é que eu fui ouvir mais sobre o meu pai e ouvi dele”, detalhou. A artista vai mais longe. Considera que o seu trabalho, exposto na Fortaleza, guarda uma parte da história de Moçambique.

Yassmin Forte nasceu em Quelimane, na Zambézia. É fotógrafa desde 2011 e, procurando, ainda, descobrir as formas de se encontrar nesta arte. Soube do UPCycles através de amigos, que participaram na primeira edição da residência criativa audiovisual, que teve lugar em 2019.

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