[Década 90] Renascimento moçambicano

Semanalmente, através do programa Conversa ao meio dia, produzido pela Plataforma Mbenga Artes e Reflexões e transmitida pela Rádio Cidade, contamos alguns episódios da História das Artes Plásticas moçambicanas, na rubrica Restauro.

Concebemos este espaço no nosso portal para a partilha, em forma escrita, do conteúdo breve, transmitido na rubrica supracitada.

Prosseguimos na década 90 que foi o “renascimento” de Moçambique se pensarmos no fim da guerra, início de um novo sistema político e social como a introdução da democracia, o desmoronar do Apartheid na África do Sul. A partir desta altura o Estado passa a ser menos intervencionista e abre-se para o mercado. A nova Constituição da República permite a liberação de várias actividades que antes dependiam exclusivamente do Estado. 

À semelhança do que aconteceu na media em que nos nessa década em que surgiram novos jornais e rádios, os artistas moçambicanos também criaram novas associações, exploraram novas técnicas de trabalho e ampliaram as suas redes de contacto dentro e fora do país. 

Titos Mabota é apontado pela historiadora e museóloga Alda Costa como um dos exemplos do uso de novos materiais e processos criativos ao trabalhar simultaneamente, as vezes, na mesma obra, o desenho, a pintura, a escultura em madeira para além de recortes de jornais, sacos, cordas, missangas. 

Naguib, outro artista para o qual Alda Costa repara, introduziu o metal e a madeira como suporte das suas pinturas em óleo. E Bela Rocha apostou na seda. A lista de novos métodos estende-se ao uso da pedra, do mármore, da argila, em combinação com outros materiais que na visão de Alda Costa vieram animar a escultura a madeira que já parecia esgotada sob ponto de vista de criação.

No espírito de resignificar as armas e a guerra e também de reabilitar aos artistas e toda uma sociedade dos traumas recentes da guerra dos 16 anos, sob orientação do professor sul-africano Andries Botha, jovens artistas do Núcleo de Arte participaram em workshops de transformação de armas em arte. Integraram esse grupo, entre outros, Fiel dos Santos, Kester, Hilário Nhatugueja.

Gonçalo Mabunda foi o que teve maior projecção. O artista que começou como galerista no Núcleo de Arte investe em trabalhos de grande dimensão a semelhança do mestre e não se esgota. Está sempre a procura de novas formas de apresentar os seus trabalhos e fazer as suas reflexões sobre a violência e as desigualdades sociais e globais.

Embora os seus materiais de eleição sejam os fuzis Kalashnikov AK 47 e balas, não deixa de introduzir novos elementos. Por exemplo, na exposição patente (02 de Junho a 03 de Julho de 2021) na Fundação Fernando Leite Couto introduziu materiais de fumigação.

Gonçalo Mabunda é um dos artistas moçambicanos mais internacionais de sempre, estudado por universidades ocidentais e conectado no mundo e no continente tendo participado, como aponta Alda Costa, da exposição itinerante Africa Remix.

A falta de profissionais qualificados para os museus, galerias e de especialistas para toda a cadeia de valores do mercado das artes em resultado de uma educação fraca, foi uma fragilidade. Alda Costa observa que não obstante, a Escola Nacional de Artes Visuais desempenhou um papel importante para continuidade das artes plásticas no país.

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