“Algumas árvores são transparentes e sabem falar”

Por: Pedro Pereira Lopes

Era a primeira quinzena de Janeiro. Fazia muito calor e chovia quase todos os dias. Eu tinha o voo marcado para o dia seguinte e sentia-me, sem razão aparente que o justificasse, triste.

Depois de ouvir a minha última história, o meu avô, que era uma espécie de mago, deu um grunhido de tractor movido a aguardente e sorriu,

com alguma vontade de chorar – eu tinha notado –, manifestamente chocado com a inversão dos papéis. No céu, uma estrela riscou a luz.

Gostei das histórias, disse-me.

Obrigado, respondi, satisfeito. Acho que vou fazer um livro. Ele desfez-se na sua cadeira de baloiçar e cerrou os olhos, depois de um breve suspiro. Estava tuberculoso e não me parecia com vontade para lutar.

Eu tinha o voo marcado para o dia seguinte e acabava de fazer uma outra descoberta. O meu avô era um embondeiro. Algumas árvores são transparentes e sabem falar. Eu aprendi a falar com uma árvore.

Chegou a hora de agradecer a todos que, diariamente, nestes últimos 50 dias 2020, acompanharam estas publicações. Não foi nada fácil mas o prazer era saber que vocês liam estas minhas micro-ficções. Em meu nome, PPL, em nome da plataforma Mbenga e da Gala-Gala Edições, muito OBRIGADO!! E, ah, queremos lançar o livro O livro do homem líquido em breve. Tenham todos um óptimo ANO NOVO!!!

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