Pequeno

Por: Pedro Pereira Lopes

Havia um homem chamado Pequeno.

Pequeno usava uns calções presos com suspensórios e andava numa pequena bicicleta branca. Na cabeça levava sempre uma boina e por onde passava, plantava um arco-íris.

Pequeno vivia sozinho numa casa de vários cómodos. Tinha também uma grande garagem onde ele deixava, bem no meio, a pequena bicicleta branca. Aconteceu que a vizinhança também passou a deixar, sem lhe dizerem água-vai, os seus automóveis na garagem.

Numa manhã, deflagrou-se um fogo na casa. A sede das chamas era muita e lambiam as paredes, Pequeno chamava por socorro, mas a vizinhança fora à missa rezar por seus pecados. Tentou conter o fogo com as mãos, procurando, no máximo, proteger as viaturas. Meia hora depois, quando o deixaram no hospital, tinha o corpo queimado e cuspia sangue.

Paciente com queimaduras de primeiro grau, dificuldades na respiração, risco de paragem cardíaca, gritou o médico, enquanto empurrava a maca, imitando um circuito de fórmula um.

Depois de duas horas, Pequeno morreu. Quando a família foi reclamar o corpo, o médico disse-lhes as suas últimas palavras: Eu tentei!

Pequeno foi enterrado com os restos da sua bicicleta branca, uma Pluma. O incêndio tinha devorado tudo mas, por sorte, os automóveis estavam segurados.

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