Por: Pedro Pereira Lopes
Um artista chegou a ser um ministro do governo. De classe média, nunca se tinha dado a muito luxo:
tinha uma bela estante de livros em casa e conduzia um carro vermelho com alguns problemas mecânicos. Quando virou ministro e por causa do status quo, os hábitos da família mudaram.
Pouco tempo depois ele perdeu o último filho, por conta de uma pneumonia. Ao primogénito fora incumbida a missão de auxiliar na preparação da cerimónia. Na agência funerária, os féretros variavam, biodegradáveis, de tecnologia de ponta, baratos ou mais caros. O jovem, reconhecendo a sua proveniência, optou por um esquife modesto.
Não, disse-lhe um alto funcionário do ministério, levaremos o mais caro. É por conta do governo. Deve haver honra na morte.
O primogénito do ministro, afinal, não tinha como impor a sua opinião. Do lado de fora da agência, chorou de raiva.
Ele era muito simples. Ele não quereria que gastássemos tanto, disse.
