Pessoas

O SOL mais uma vez ressuscitou, ganhou vida e veio para iluminar as pessoas que ganham a vida debaixo dele. Os seus raios entraram na flat, tocaram a mesa com o matabicho requintado. Walter terminou a primeira refeição, entrou no carro, 4×4, fechou os vidros para não sentir o ambiente caótico que a sua cidade vive.

Olhou para as ruas, viu seres a caminharem sem rumo. Ficou chateado ao perceber que estes seres tornavam a cidade que ele habita cada vez mais suja. Viu um desses seres bípedes a limpar a face e depois a atravessar a estrada sem reparar para os carros que estavam a passar.

No regresso do trabalho, 17 horas, Walter observou o mesmo homem, no mesmo local, sentado sem motivação.

O jovem do 4×4 olhou para a cidade limpa e disse: é necessário afastar estes seres bípedes, pelo bem da cidade e das pessoas.

Primeira fome

As janelas estão fechadas, mas o vermelho reflectido na sala/quarto/cozinha mostra que já amanheceu. Mário acordou sem motivação, olhou para a sua companheira e seus dois filhos, de 4 e 1 ano. Sabendo que o caos se apoderou, preferiu sair de casa, pois a sua saída traz esperança aos seus.

Chegou às ruas, observou personagens de filmes futuristas, a guerra não era no estrela, por isso refugiou-se lá e à distância escutou os disparos futuristas.

As 12 horas percebeu que não tinha como desenrolar o enorme embrulho. Às 18 horas teve a certeza que não existiam possibilidades de enviar o valor para a casa. Sentou num dos passeios, o seu corpo ficou derramado no concreto, Mário sabia que não tinha um plano em concreto, uma explicação lógica para dar a família. Sabe que os jornalistas já informaram, com uma dose de sensacionalismo ou sempre a desfavor dele e dos seus colegas.

A fome concreta

Martinha acordou cedo. As janelas estavam fechadas, mas o laranja estava reflectido na sala/quarto/cozinha. Não conseguiu ver o pai, que madrugou para chegar cedo ao trabalho. Olhou para o seu irmãozinho, que recebia o peito da mãe.

Matabichou com as sobras do jantar. Às 13 horas percebeu a mãe inquieta, a ver a televisão. Às 15 horas almoçou. Às 19 horas veio o pai sem motivação. Apesar de pequena, percebeu que o clima era de tensão.

Sentaram na esteira, passaram a refeição como se fosse a última, escutou as lamentações do pai, o medo da mãe, os choros de seu irmãozinho, a cada colherada de comida que levava para boca.

A fome abismal

Judite acordou cedo, preparou o pequeno almoço para o marido, Mário. Deu um banho ao filho, deixou a sua filhinha dormir mais um pouquinho. Fez a limpeza da casa, preparou o almoço, enquanto assistia a televisão.

Judite acordou cedo, percebeu pelo noticiário que a vida da sua família mudaria para sempre. Aprontou o jantar, esperou o marido, jantou. O marido deu várias explicações, tentou justificar a falta de dinheiro, mas a mulher já sabia.

Depois de ouvir as falas do marido, disse para ela mesma: será que eles não sabem que também somos pessoas.

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