Idiomas nacionais em diálogo com o latim na próxima Missa de Estevão Chissano

Durante a residência artística que o compositor de música erudita, Estevão Chissano, está a realizar em Portugal, aprimorou a sua próxima missa, na qual cruza Moçambique e o ocidente.
Numa conversa que teve com o “Mbenga”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, contou que está a preparar “uma Missa à 3(4) línguas (Latim/Português/Changana-Ronga)”.
É uma peça para um Coro Misto, descreveu, na qual vê a inserção de um idioma moçambicano como uma “tentativa de tornar a música erudita mais próxima do moçambicanos”.
Apresentou a obra na Residência Artística que está a realizar na Escola Superior de Música de Lisboa, onde teve a observação de especialistas na matéria, o que possibilitou ampliar o horizonte da mesma.
Estevão Chissano revelou-nos que tem alguns rascunhos que espera dar vida. Um deles é de um quarteto de cordas (2 violinos, viola e violoncelo).
“Esta peça baseia-se na melodia ‘A mapawa ni salada hodla utsona a nwinghi’, que marcou a minha infância, ouvi muitas vezes na RM”, disse o compositor.
Essa aventura, prossegue, é o caminho encontrado por Estevão Chissano de “recriar” obras com traços tradicionais moçambicanos na linguagem da música erudita. “Pretendo dar-lhes um lugar de relevo no âmbito da música de concertos”, acrescentou.
Integrado no projecto de Música Clássica Xiquitsi, concebido e dirigido pela actual ministra da Cultura e Turismo, Kika Materula, o músico de 25 anos teve os primeiros contactos com a partitura em 2014.
Na estadia em Lisboa, Estevão participou de aulas de composição nos níveis de licenciatura e mestrado.
O também Monitor no Coro Xiquitsi, desde 2016, e Coordenador da turma de composição desde 2017, já compôs algumas obras que estiveram em palcos nacionais e estrangeiros.
Dos trabalhos de Estevão que já vieram a superfície, o destaque vai para “Missa para o Meu Sol (Coro e Orquestra – 2017)”, “Ku Ringisa” (2017) e Quinteto de Cordas “Moya” (2018), arranjo coral da canção “Kutwanana ka wusokoti” (2018), Agnus Dei /Xihambana da Missa para o Espírito Santo – em 3 línguas (2019).
A residência está ajudá-lo ainda, disse, a perceber o estágio do seu conhecimento sobre o que faz e reforçou a ambição de seguir uma licenciatura de composição, assim que terminar a de Geologia.
O maior benefício, reconhece, foi o contacto com profissionais da área, que ajudaram a acreditar que é “possível viver desta paixão”.
Estevão acredita que o aprendizado de música erudita é uma mais valia para quem abraça esta arte, não necessariamente para executar, mas para ter um entendimento científico.
“Acredito que a timbila, a mbira, se executados com o conhecimento da ciência da música, tem outro brio”, concluiu.
A componente pedagógica desta bolsa resulta dos esforços de Kika Materula quando dirigia o projecto Xiquitsi e a viagem foi custeada pelo Programa PROCULTURA.

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