Poemas de Carlos Orfeu

Textos de Carlos Orfeu

Calabouço do açoite

“sou alguém que se descobre
infindavelmente negro”
Marcelo Ariel

I

carne –
coisa no
calabouço
do
açoite

projetada
no ventre
de
ferro

o
sol
da colheita
de
sangue

não coagula
no quilombo
do grito

II

na carne
a cor da noite

é um canto
da pele
ramificada

no relâmpago
da destreza

Desenho de Joaneth

III

a carne aflorada de cicatrizes
ossaturas dos nomes
extirpados de suas alteridades

na carne os fantasmas
não se calam
nas fissuras do tempo

mitificam a agonia
amordaçam os pés

no cerco cego
a fúria é incurável doença

IV

a carne é esse campo de vozes fossilizadas
ao abandono das massas

na soberania do caos nomeado deus
invocam o império bestial
com tentáculos de sangue

urge a morte
o manto pútrido

sobre rostos e ossos
espectros na história

***

Carlos Orfeu, nasceu em Queimados, Rio de Janeiro. Publicou Invisíveis cotidianos em 2017 pela editora paraense Literacidade. Nervura em 2019, pela editora Patuá. Participou da antologia organizada pelo poeta Floriano Martins: Sob a Pele Da língua, onde reúne jovens poetas com referências surrealistas. Têm poemas publicados em revistas e sites literários.

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