Gerir expectativas

SÃO 14 horas e finalmente os clientes do mercado compraram produtos suficientes para garantir a primeira refeição. Dona Berta agora respira de alívio e chama Marta, sua sobrinha, para avisar os filhos que terão a tão desejada refeição.

A notícia cai bem, os estômagos que já roncavam soltavam gritos que as impossibilitava de brincar à neca, zoto, escondidas, agora conhecem o silêncio. Festa, a comida ainda não chegou, mas os cinco miúdos já brincam, correm, cantam, na expectativa de provar a tão esperada comida.

Maria, filha mais velha de Berta, vai ao mercado, leva a mandioca, a alface, a cebola, o tomate, o saco plástico de óleo, o arroz e o peixe. Os irmãos já descascaram a mandioca, o peixe já está escamado e a salada de alface espera o momento certo para ser temperada com limão, que cresce no quintal da casinha.

Depois da refeição, os miúdos lambem os dedos e os beiços, as barrigas estão cheias e já não recordam os momentos de crise que viveram. Sem forças, os miúdos juram que não terão capacidade para comer o peixe do jantar.

São 20:00 horas, Berta retorna à casa, faz a salada, serve o jantar, conversa com os filhos. Na breve troca de palavras, explica-lhes que se vive um tempo de crise e, possivelmente, amanhã a primeira refeição poderá ser às 15:00 horas.

As suas crias saciam com os lábios oleosos, os dedos a cheirarem a peixe, apenas olham e acenam com a cabeça. Nesta hora do dia, os seus tímpanos estão “sonâmbulos” e só escutam as vozes do sono, que as chamam para a rotineira viagem.

Berta vai à cama, sua cabeça toca a manta e repousa. Seu corpo tenta descansar, mas a sua mente ainda anda agitada. Amanhã é mais uma batalha, uma luta, e ela sente que não pode fraquejar, tem de estar firme para gerir o seu lar.

Respira fundo, recorda do esposo que hoje está distante, suspira e solta uma interjeição longa e sofrida: “hoooooo!!!!!”, depois termina: “hoosi wa minouuuu!!!” (meu Deus, em tradução livre do changana, língua do sul do país). Arrepende-se do grito que soltou, fecha os olhos e reza para que o dia de amanhã seja melhor.


Acredita em seus sonhos e transforma-os em verdade. Com amigos fundou o Mbenga e escreve o seu destino. Colaborou com periódicos dos
PALOP’s, trabalhou em Relações Públicas ( assessoria) e Publicidade e Marketing. É repórter do Notícias. Este é só o principio da revolução.

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