KASSZULA: músico usa voz para vencer os dramas

Kátia Manhiça

Patrick Manuel Sitoe ou simplesmente Kasszula, como é chamado no mundo da música, é um jovem moçambicano sonhador, apaixonado pela sua arte e pelas Ciências Sociais. Tem 23 anos de idade, nasceu e cresceu no Malhazine, Cidade de Maputo. Há pouco tempo descobriu que sofre de uma doença rara. Apesar das adversidades, mantém o sorriso na face e traça planos.

WhatsApp Image 2018-05-02 at 08.50.20Kátia Manhiça (K.M): Conte um pouco sobre sua infância.

Kasszula (K.): Minha infância foi repleta de muita saúde, brincadeiras de criança e acima de tudo, de muita música. Frequentei a escola como muitas crianças e sempre sonhava em ser músico.

K.M: Quando é que começou a paixão pela musica?

K.: Foi um caminho natural, visto que a música é a arte que caracteriza a minha família. Lembro que durante a minha infância escutava vários estilos musicais, assistia filmes e brincava com meus primos e amigos como crianças comuns. Cresci a ouvir Michael Jackson, Hugh Masekela, Black Mombazo e até Leandro e Leonardo. Frequentava a igreja apostólica, onde tinha referências como Justino Ubakka. Desde criança já olhava para ele e dizia: quando crescer quero cantar assim como mano Tino. Tive a sorte de te – lo como irmão mais velho que nunca tive. Nos dias de hoje, prefiro dizer que me apaixonei pela música quando estava no ventre da minha mãe.

K.M: Com quantos anos começou a cantar seriamente?

K.: Quando tinha 15 anos de idade, isso em 2010, passou uma publicidade de descoberta de talentos que era para menores de 15 anos – estávamos no limite. Com o incentivo da minha tia, formei uma dupla com meu primo Yuri e juntos passamos os três primeiros Castings. Por uma eventualidade, Yuri foi afastado mas, de certa forma ele estava lá porque fazia os coros do concurso. Tudo começou a ficar sério quando ganhei o segundo prémio desse concurso.

K.M: De onde surge o nome Kasszula?

K.: (risos) É uma longa história mas, enfim. Tudo começou quando visitei o estúdio do grupo “Grande Dimensão”. Era o mais novo da turma e chegou o Dj Febax, amigo do mentor do grupo, que precisava de um cantor para interpretar as músicas que ele produzia. Febax ouviu minhas músicas e sempre me chamava por “Kaazula” e eu não sabia porquê, até que um dia ele disse que me tratava assim por ser o mais novo do grupo.

K.M: Tem outras referências musicais além do músico Justino Ubakka?

K.: (risos) Para mim Ubakka è o melhor mas, escuto e gosto de ouvir música nigeriana. Acho que eles trazem uma dinâmica diferente. Não me esqueço do astro do pop Michael Jackson.

K.M: Percebe – se que admira o astro Michael Jackson. Já pensou em fazer dança?

K.: Aprecio e muito o mundo da dança.

K.M: Já apresentou alguns passos de dança em grupo ou individual?

K.: Em 2017, tive a oportunidade de conhecer o coreógrafo do grupo “Theka’. Cantei para ele e o mesmo convidou – me ao Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM), onde decorria o Festival Nacional de Dança Contemporânea. Depois do festival fui me contactando com o artista e me tornei bailarino profissional de dança contemporânea.

K.M: Quem compõe as músicas que interpreta?

K.: No início da minha carreira Ubakka é quem escrevia as letras, por isso, é impossível falar de mim sem falar dele. Mas, actualmente escrevo sozinho, afirmo que comecei o meu trabalho nas mãos certas e sempre que componho uma música penso nas composições de Ubakka.

K.M: Qual è o foco das suas músicas?

K.: Quando escrevo penso em tudo mas o principal foco é a sociedade. Tento transmitir uma mensagem positiva através da mistura de letras e melodias. Tenho músicas para todo tipo de eventos.

K.M: Tem se dito que os músicos são poetas. Considera – se poeta?

K.: Já pensei em escrever poesia mas o meu lado poético é motivacional. Gosto de partilhar as experiências de vida através da música.

K.M: Quantas músicas têm?

K.: Hoje tenho 15 músicas gravadas e cerca de 83 não gravadas. Sempre que pego numa guitarra, penso numa história relacionada com a sociedade e faço música.

K.M: Além do músico Ubakka e do grupo Player Music, faz parceria com outros músicos? Quem são?

K.: Durante a minha caminhada no mundo da música, conheci muitas pessoas. Já cantei com vários artistas. Tenho músicas gravadas com participação de figuras como o próprio Justino Ubakka, Argentina Luís, Mimae e Puto Júnior. Para 2019, estou a preparar o álbum intitulado “Numa wella” com a participação especial do Yuri Player.

K.M: Fale do álbum intitulado “Numa wella”

K.: Prefiro não comentar muito sobre o mesmo por ser uma surpresa para os fãs e admiradores.

K.M: Como é que consegue conciliar a música com outras actividades?

K.: Tudo é possível basta saber dividir os momentos. Em 2015, terminei a minha formação em Contabilidade e juntei – me a “Solução Lobau” – consultores primaveras e informáticos. Trabalho como agente que soluciona problemas.

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K.M: Porquê “agente que soluciona problemas?

K.: Gosto de problemas porque, para mim a vida não teria graça se eles não existissem. Resolver problemas é algo que me fortalece.

K.M: Quais são os momentos mais felizes da sua carreira?

K.: (risos) Tive vários momentos felizes na minha vida artística. Um deles foi quando ganhei o segundo prémio do programa Tribo Júnior, onde ganhei a minha primeira guitarra, de seguida o prémio da sexta posição do Super Tardes em 2012, o lançamento da minha primeira música intitulada “Volta pra mim”. Sinto – me feliz quando canto para alguém.

K.M: Como è que o publico recebe as músicas que canta?

K: Já tive comentários críticos mas, nunca negativos sobre o meu trabalho. O feedback tem sido bom.

K.M: Há pouco tempo descobriu que sofre de uma doença rara e segundo os médicos ainda pode vence – lá. Como è que encarou esta notícia?

K.: Confesso que tive um susto. Surgiram várias questões sem respostas mas, graças a esses pensamentos cheguei ao nível de motivação em que vivo hoje.

K.M. Há quanto tempo vive com essa dor?

K.: Tenho esta dor há mais de 8 anos.

K.M: Porquê que não se dirigia ao Hospital?

K: Eu como outros homens não me dirigia ao hospital porque não gosto do ambiente hospitalar e sempre que sentia a dor no peito associava a um exercício físico mal feito.

K.M: O que lhe levou a dirigir – se ao Hospital?

K: Na verdade não foi por vontade própria mas, porque estava prestes a viajar para estudar fora do País. A faculdade exigiu uma série de documentos, de entre os quais faziam parte os exames médicos. A viagem estava marcada para o dia 13 de Dezembro de 2017 e o resultado dos exames saiu no dia 11 do mesmo mês. Com essa notícia tudo foi cancelado e tentei me conformar.

K.M. Onde e o quê que ia estudar noutro país?

K: Quando descobri a doença, ia estudar Ciências Sociais na vizinha África do Sul. Não sei quando terei a oportunidade mas, um dia estarei lá.

K.M. Explique o nome da doença que lhe incomoda há oito anos.

K.: Vivo e sofro de uma doença rara, Síndrome de Red – uma doença que é comum ser diagnosticada em crianças. Ela impossibilita o funcionamento normal dos membros e reduz o nível de pensamento. Em mim, a síndrome criou uma ferida no peito e, por não ter cura, os médicos “lutam” para encerrar o desenvolvimento da mesma.

K.M: Durante o processo de descoberta, pensou em desistir da música?

K: Nunca pensei em abandonar a música mas, confesso que parei de me apresentar em calcos porque a vida é o elemento único. Não vale a pena brilhar no palco sem saúde!

K.M: Sente – se isolado? Ganhou ou perdeu amigos?

K.: Sinto que o que esta a acontecer comigo é uma coisa de Deus. Ninguém me abandonou e sinto – me abraçado por pessoas de boa fé. A prova disso são as mais de quinhentas pessoas que se fizeram presente no Hospital Central de Maputo (HCM) para doar sangue. Graças a Deus conseguimos 13 litros de sangue do Grupo O (O negativo), no caso o meu grupo sanguíneo.

K.M: Sente – se preparado para iniciar o tratamento?

K.: No início achava que estava preparado mas descobri que estar preparado significa muita coisa, principalmente a mudança dos hábitos. O tratamento devia ter iniciado a 12 de Março mas não iniciou por causa da insuficiência de sangue e por não estar preparado psicologicamente. O médico disse que seria arriscado iniciar o tratamento com pouco sangue, visto que o mesmo debilita o corpo e que os medicamentos que serão ingeridos no meu organismo são muito fortes.

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K.M.: O que tem feito para tentar preparar – se?

K: Faço um tratamento psicológico no Hospital Central de Maputo, duas vezes por semana.

K.M: Pratica alguns exercícios físicos?

K.: Já praticava exercícios antes de descobrir a doenças. Pensei em parar mas, o medico aconselhou – me a continuar com os mesmos e a consumir alimentos que ajudam na produção de sangue próprio.

K.M: Pretende continuar a cantar, após vencer o Síndrome de Red?

K.: Claro. Um dos compromissos que tenho com os meus fãs é o álbum que esta por em vir em 2019. Peço a Deus que me livre desse mal porque quero continuar a cantar, assinar autógrafos e muito mais. Prometi a mim mesmo que quando estiver os “bolsos cheios”, quero doar metade da minha fortuna para os mais necessitados.

K.M: Quais os projectos que tem para o ano em curso?

K.: O principal projecto para este ano é motivar as pessoas, dando aulas de edição de vídeos, musica, francês e inglês.

K.M: Qual é a mensagem que deixa para o povo moçambicano?

K.: Tenho uma frase para dizer: “Aprenda como se fosse viver para sempre e viva como se fosse morrer hoje”.

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