Em Joanesburgo foram 4 mil pessoas. Na Cidade do Cabo 1500. Em Maputo, 1300. Estes são os números do regresso dos 340ml, confirmados para a edição de 2025 do MTN Bushfire.

Pedro da Silva Pinto (vocalista) e Paulo Chibanga (baterista) haviam comentado com a “Mbenga” que esta possibilidade estava em negociação, e a publicação do cartaz de anúncio na página do festival esclarece que, entre os dias 30 de Maio e 01 de Junho, a icónica banda irá actuar em Eswatini.

A pergunta sem resposta é: e no Festival Azgo, irão actuar? “Talvez daqui a 12 anos”, responde a brincar Pedro, ironizando o longo interregno. Chibanga, fundador do festival, igualmente mantém o suspense.

Após pouco mais de uma década de silêncio, entre projectos individuais dos seus membros e colaborações pontuais, a lendária 340ml está oficialmente de volta aos grandes palcos.

Formada em Joanesburgo no final da década de 1990 por quatro amigos moçambicanos — Paulo Chibanga (bateria), Pedro da Silva Pinto (voz), Tiago Correia-Paulo (guitarra) e Rui Soeiro (baixo) — a banda conquistou fãs em todo o continente com a sua fusão distinta de reggae, dub, jazz, afrobeat e outros sons globais, mantendo sempre uma forte base rítmica africana.

O regresso dos 340ml tem sido celebrado em grande estilo, sendo que, em Março deste ano, o grupo realizou dois concertos esgotados na Sala Grande do Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), em Maputo. A tournée de reencontro passou também pela África do Sul, com actuações muito bem recebidas em Joanesburgo e na Cidade do Cabo.

Com esta participação no Bushfire, a 340ml junta-se à lista de artistas moçambicanos que têm representado o país neste grande evento multicultural. Em 2024, Moçambique foi representado por Stewart Sukuma e a Banda Nkhuvu, e em 2023, pela histórica banda Ghorwane.

O público que marcar presença no MTN Bushfire 2025 pode esperar um espectáculo nostálgico, com os sons que marcaram gerações e que continuam a influenciar a música africana contemporânea. Na publicação do Bushfire no Instagram, muitos internautas mostraram-se ansiosos por ver a banda actuar, e alguns até comentaram dizendo que não sabiam que era composta por moçambicanos.

Casualmente, nos anos 90, quatro adolescentes e jovens moçambicanos conheceram-se em Joanesburgo. Para lá haviam ido estudar, cada um a seu tempo.

São eles Pedro da Silva Pinto (voz e melódica), Tiago Correia-Paulo (guitarra), Paulo Chibanga (bateria) e Rui Soeiro (baixo).

Um professor de música da escola que frequentavam convidou-os a integrar a sua banda. Entretanto — muitas vezes conta Pedro esses episódios — a música que os rapazes queriam tocar não era a que o fundador ansiava.

Após ensaios e algumas apresentações, o professor desfez-se do conjunto. A “malta”, que queria continuar, reuniu-se e seguiu ensaiando para uma batalha de bandas.

O maior dilema era o nome para a inscrição do quarteto no certame. Ao abrir a geleira, Rui viu uma lata de cerveja com a medida de 340ml. Assim, no final dos anos 90, nascia este projecto que viria a mudar a música para sempre.

Com um background dub, a banda rapidamente se destacou pela sua sonoridade única, que misturava reggae, dub, jazz, afrobeat, ska e outras influências globais.

O cruzamento das diferentes influências dos seus membros resultou num som que reflectia tanto as suas raízes moçambicanas — essencialmente da cena urbana de Maputo — quanto o ambiente multicultural de Joanesburgo.

O álbum de estreia, Moving (2004), foi um marco na carreira da banda, recebendo elogios pela fusão entre reggae e rock, bem como pelas nuances jazzísticas e africanas. Em diferentes conversas com Paulo, Pedro, Rui e Tiago, soube-se que muitas das composições nasceram de forma espontânea, com aceitação surpreendente por parte do público.

O segundo álbum, Sorry for the Delay (2008), consolidou o seu lugar na história da música africana. O título faz referência às dificuldades enfrentadas durante a produção, incluindo vários assaltos em Joanesburgo que resultaram na perda de equipamento. Temas como “Fairy Tales” tornou-se clássico, revelando uma sonoridade mais introspectiva e madura, sem perder a energia característica da banda.

A 340ml conquistou palcos em África e na Europa, levando o seu som a públicos diversos e obtendo reconhecimento internacional. Igualmente, colaborou em projectos como Tumi and the Volume.

Apesar do prolongado hiato iniciado por volta de 2012, a banda continuou a inspirar músicos e a marcar a história da música africana, mantendo-se viva na memória dos seus admiradores.