O negócio do evangelho está dar, pelo que se diz, lucros misericordiosos. É dos que mais cresce.
Esse crescimento não é uma particularidade de Moçambique, é um fenómeno universal. Há cada vez mais empresários a investir no Reino de Deus.
Já que os anjos não vêm sozinhos. Vêm acompanhados pelo diabo, há cordeiros que pertencem aos serviços secretos daquele ilustre de voz funda, aterrorizante, com chifres e garfo de três dentes.
Aconteceu:
É domingo, o culto inicia as 9 horas. As 8 e meia os clientes, perdão, crentes vão se juntando para breves dedos de conversa em frente a igreja:
– Ontem curti até altas horas, meu amigo – conta o Pedro.
– Eu saí com uma senhora casada, se gaba o Samuel.
Riram-se na sordina e quando se aproximavam os minutos para o início do culto, o Pedro sugere ao amigo, “temos que mudar de conversa. Estamos a entrar para o culto”.
– Não sei quem, mas hoje alguém que está sempre aqui faltou, constatou o Samuel, que foi silenciado pelo amigo.
O pastor subiu ao palco para iniciar o encontro solenemente elaborado para a colheita do dizimo.
Maria Madalena, esposa do Pedro, cochichava com a Rute: “Ontem quando ele saiu, o amigo veio me buscar. Tive uns orgasmos que o Pedro nunca me deu. Me vim a noite toda. Agora estou exausta.”
A Rute, sorriu, tapou a boca porque o som do riso havia inundado a igreja.
As velhas ao lado, invejando sua juventude, fingiram-se representantes do divino: “Vocês vão directo para o inferno por ignorar o pastor!”.
Começaram as orações, em voz alta. A Rute, esposa do Samuel, aproveitou para contar a Maria Madalena que o marido tinha lhe deixado sair na noite anterior “fui txilar até tarde”.
No clímax das orações, vindos da sombra, vestidos de preto e encapuzados, quatro homens armados invadiram o edifício e baleiaram o pastor.
O encontro com o seu criador foi instantâneo, ali mesmo.
Os clientes desaprenderam acção, reacção, atitude… Chocados, imóveis, presos ao chão, o cimento da pedra lhes subira, estavam estatuados.
Os de língua afiada afirmaram : “São acertos de contas!!”
– Que contas? Era nosso pastor! Esqueceu?
– Outros pastores. O culto dele enche e eles não gostam.
– Como sabes?
– Contaram-me…
– Com quem?
– Pergunta ao tipo que sempre senta no banco da frente, na fila do meio.
– Estranho, hoje não veio.
– O Jesus faltou ao culto?
Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.