Loucura

Por Elton Pila

E o sol imerge, a lua emerge… A lua imerge, o sol emerge…Nesta sequência, passam-se dias. É, outra vez, véspera de terça-feira. Como sopra o vento?É a questão que se impõe. Que alegria, que tristeza ajudar-me-á a compor o texto. Que flagrante do real ajudar-me-á a pintar caracteres negros na tela branca.

Um episódio que nasça do real, da lucidez, mas que ganhe vida na ficção, na loucura. Penso nisto, logo lembro, de um jovem conhecido, cruzamo-nos já algumas vezes pela rua, bem-parecido, pele lustrosa, exalando juventude. Mas, ao mesmo tempo,contido, com um quê de melancólico, discreto, como se quisesse ser invisível aos olhos dos outros passantes.

Noutro dia, surpreendi-me assustado aovê-lo de dorso nu, pele tingida pelas cores da sujidade, calças rotas, pés descalços – calcados pelo alcatrão aquecido, ora pelo sol, ora pela fricção dos pneus dos automóveis. Balbuciava, soltava palavras inteligíveis, gritava. Olhar distante, também os ouvidos, indiferente ao barulho dos automóveis. E os automobilistas (coitados)esquivavam-se, menos pelo medo de atropelar um homem, mais pelo medo de atropelar um homem louco.Ele sorria, ria, gargalhava. Nunca o vi mais vivo.

Talvez, seja a loucura o ponto óptimo da vida.Que o vento sopree leve de mim as amarras da lucidez.

eLTON pILA2

Sonha em mudar o mundo. Acredita no jornalismo e na literatura como agentes desta mudança. Colabora em alguns jornais, revistas e festivais de literatura. Actualmente, é redactor da Revista Literatas e tem a coluna semanal Como Sopra o Vento
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