Por Inocêncio Albino
Das coisas mais bizarras que me chegaram via WhatsApp ontem, 20 de Julho, enquanto milhares celebravam a fraternidade universal, por ocasião do Dia Internacional da Amizade, foi uma foto, bem conhecida nas redes sociais virtuais, ostentando uma carrinha movida à mão apinhada de quantidades colossais de caixas de cerveja.
Segundo meu olhar, tal carrinha embateu na entrada – quase adentrando-se no interior – de um mini bus de transporte público, também acardumado de gente até ao gargalho como tem sido apanágio na contemporânea e próspera cidade de Maputo da atualidade.
“Imagem muito forte. É melhor sentar para não cair!”, descrevendo o cenário, advertiu-me um amigo, a quem chamarei Marcus, ao mesmo tempo que oferecia uma possível legenda à fotografia.
Conheço Marcus desde tenra idade. Conheço-lhe as frustrações amorosas – até ao seu amor pela beer, daí chamar-lhe – na intimidade – Mr. Massopeni. Por isso, sua descrição não me surpreendeu. Mesmo assim, indaguei-lhe.
– É forte? Porquê?
– Há muita cerveja desperdiçada no chão.
– Está certo. Tens razão! Havia-me esquecido de que és xidakwa!
– Já não bebo, por acaso. Mesmo esse mau tempo que está passando – em Maputo – chamado 5-100, não me afeta. Estou livre das drogas!
Ao ler aquelas palavras escritas, seguramente, por um (quase) beer dependente, fiquei boquiaberto. Porém, entre júbilos e aplausos, dei continuidade à conversa.
– O que aconteceu?
– Maputo está vivendo esses tempos de novo. Cinco cervejas pequenas custam 100 Meticais.
– Isso merece uma homenagem bem merecida no Facebook. Como conseguiu se libertar da bebedeira?
– Assim vais-me bombar no Facebook? Meu amigo, tenho uma filha pequena a quem amo muito. Estava a ser muito difícil dividir o tempo entre o álcool e estar com ela. Então, escolhi a menina.
– De que modo o álcool incomodava a sua relação com a miúda?
– Lógico que às sextas-feiras eu voltava do job e, imediatamente, entrava nos copos. Mal via a miúda. Aos sábados saía muito cedo para uma outra actividade e logo à tarde estava naquelas amizades dos copos. Aos Domingos idem – depois voltava a serviço e assim se mantinha o ciclo vicioso. A criança queria e tanto brincar com o pai – passear – mas não era possível por causa dessa prioridade fútil. Isso já me incomodava maningue.
– Prioridade fútil? Isso está muito sério. E como é a sua relação hoje com os seus brothers das bebedeiras?
– Ainda me resta um pouco de humanismo e amor paterno. Não perco nada quando a levo para passear, ou ficamos a brincar ou mesmo lhe ajudando com os trabalhos escolares. Muito pelo contrário, ganho um sorriso, um abraço, reconhecimento e carinho.
Dito isto, o Marcus embebedou o inbox do meu Whats com uma pilha de fotos da filha com ele e a esposa. Ainda assim, faltava-lhe responder a uma pergunta, ou melhor, a um julgamento. Os amigos também julgam.
– Parabéns papai. Mas, e os seus amigos? Você é um traíra.
– Posso até ser, desde que esteja bem com a minha filha basta-me.
A conversa poderia se prolongar, mas estávamos nos Whats. E ainda bem que assim foi. Utilizamos a ferramenta de modo diferente. Aliás, recordei-me de uma grande amiga a quem vou chamar “Roma da Vida” que um dia desses falou-me o seguinte:
– Sabe, Inocêncio, há decisões que dão medo tomar por haver muita coisa em jogo. Quando a pessoa decide dar o primeiro passo, é, com toda a certeza, depois de se debater. E quando é assim, não se adia.
Em boa parte, concordo com a “Roma da Vida”. E ficou feliz em partilhar esse pequeno trecho sobre a importância das boas amizades. Elas fortificam. Ainda que, na corrente, o marketing pregue e apregoe que a cerveja é o amigo de ouro. Como jovem, quero permanecer na contra corrente. É uma decisão! Também estou livre das drogas!
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