O que acontece depois da morte?

Não sei. Gostaria de ter a resposta na ponta dos meus lábios, mas falta-me conhecimento espiritual, metafisico, para conseguir desvendar os segredos que os mortos e outras entidades conservam.

Prefiro não citar a explicação bíblica, do Alcorão ou dos pensamentos budista, o local onde publico o texto não tem mérito suficiente para receber essas passagens “sagradas”.

Depois da morte…

Andamos mais preocupados com a vida, que a morte se transforma num compromisso inadiável, que ninguém quer falar, recordar. O imediato, o agora e o futuro é o que mais interessa.

Futuro. A morte pertence a um outro tempo, que ainda não consta nos nossos calendários.

O artista, a arte sobrevivem ao tempo, mesmo a essa desconhecida, a morte. No entanto, com o falecimento do artista a luta torna-se cada vez mais árdua, para fazer a arte viver. Esse último período tem mais sentido no nosso contexto, em países mais desenvolvidos nem tanto. Nestes países, os artistas não são vistos apenas como homens, seres que andam sobre as duas pernas e criam produtos artísticos. Eles são consideradas propriedades da sociedade, peças indispensáveis para o funcionamento do xadrez.

Quando o seu corpo deixa a terra, ou melhor, quando o seu corpo é consumido pela terra, as lágrimas caem, não pela morte da arte, mas pela morte do artista, pois existem mecanismos para a imortalização da arte.

O artista é imortal quando a sua arte o é. O contrário são discursos vazios, proferidos para dar mais emoção ao velório do artista. Se as obras dos artistas não circulam depois da sua morte, a sua presença na terra estará viva apenas em memórias vagas, de quem o viu a respirar o oxigénio impuro que ainda inspira os mortais.

Não queria mencionar nomes, principalmente estrangeiros, mas seria impossível imortalizar Tolstoi, sem a promoção das suas obras depois da sua morte. Ele seria mais um cidadão Russo, que viveu e rabiscou alguns escritos, nada mais.

As obras devem viver, os feitos do artista devem circular, quentes nas veias do mercado, para alimentar o coração, a sociedade. Quantos dramaturgos nacionais se inspiram em Shakespeare. Isso seria possível se a sua obra não circulasse?

Não basta apenas falar ao vento, dizer a meia dúzia de pessoas que ele foi um grande escritor, pois, se os seus livros não chegarem as novas gerações, o seu feitos serão apenas memórias vagas, distorcidas.

Não basta a invocação do seu nome na cerimónia do primeiro, décimo, vigésimo ou quinquagésimo ano de sua partida, pois, se a sua arte não estiver a ser consumida, distribuída, estudada, as novas gerações nunca vão proferir o seu nome.

Num país, em que até os vivos são enterrados, as suas obras chegam apenas a 100 pessoas, ou menos, torna-se complicado falar dos mortos. Mas temos de continuar a falar deles, pois temos de acreditar na imortalidade. Conhecemos a fórmula: temos de valorizar a obra, não apenas com discursos de ocasião, forjados para o momento, não com promessas de ocasião, proferidos para alegrar a família dos finados e fazer a sociedade acreditar que algo está a ser feito.

Nós temos a formula, temos de valorizar a obra, para que o autor viva, não como um homem, que anda sobre as duas pernas e produz, reproduz e morre. Mas como um artista, que nasce produz, mistura-se com a terra que um dia pisou e deixa o seu legado para a posteridade.

 
 
 

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