Experimentalismo: da teoria à prática

Por: Leonel Matusse Jr

Certo dia um homem vagueando nos seus pensamentos, uma luz acendeu-se: “devo estudar mais os instrumentos musicais tradicionais e mostrar ao mundo que tem tanto valor quanto os convencionais”. E assim foi que esse homem, etnomusicólogo Luca Mucavel, iniciou a sua pesquisa, cujo resultado apresentou em concerto no Teatro Avenida.

A entrada do Teatro Avenida, no 25 de Setembro, na cidade de Maputo, amigos e conhecidos se cumprimentavam no princípio daquela noite de 23 de Março, com taças de vinho na mão.

Na sequência entraram e foram ao primeiro andar apreciar a exposição dos instrumentos tradicionais descobertos por Luca Mucavel. O artista plástico Vasco Manhiça fez a curadoria da mostra.

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F: Ouri Pota

Instante depois, sentados na sala de espetáculos, a cortina subiu e lá estava o pianista norueguês, Jens Bugger Wesseltoft, que viaja pelo mundo a busca de sonoridades para agregar ao seu jazz experimental.

O palco estava repleto de instrumentos, que só não eram estranhos porque acabávamos de ver na amostra do primeiro andar, tradicionais.

O pianista inaugurou a noite introduzindo ao piano os experimentos do que vai congregando com a audição de diferentes tipos de música, soando uma balada.

Ante um público receptivo e silencioso, o percussionista Cândido Cossa (membro da Companhia Nacional de Canto e Dança), casou o seu instrumento ao piano.

Nesse instante o concerto começou a ficar intenso, Cândido transcendia, como se buscasse o âmago da música. Ele foi explorando as diversas possibilidades que o instrumento lhe oferece.

Jens Bugger Wesseltoft, na performance, reproduziu o que gravara da música até aquele instante e preencheu os espaços vazios com os instrumentos que roçavam a música eletrônica com recurso a um aplicativo de iPad.

Confira Jens Bugger Wesseltoft

Luca Mucavel, o homem de quem falamos na entrada do texto estuda música tradicional e mais do que construir teorias experimenta, no palco.
Confira Luca Mucavel:

Tendência para o New Conceptions of Jazz
Geralmente as bandas experimentais possuem instrumentos pouco conhecidos, modificados, ou utilizados de maneiras inovadoras; efeitos estranhos aplicados de maneiras não convencionais e mistura de diversos gêneros opostos.
A aposta do Etnomusicólogo é nos instrumentos tradicionais, desconhecidos do grande público. Mas não só, evoca ainda música tradicional.
Talvez pela presença do pianista de jazz a sua música evidenciava tendências fortes para o New Conceptions of Jazz.
No primeiro instante, apresentou-se sozinho no palco, com Xizambe – instrumento tradicional de Gaza. Se assemelha ao berimbau, muito usado na dança capoeira dos brasileiros.
Tocou um pau, com o qual batia o cabo. Emitia um som, as vezes, com a boca. Até porque ela está presente em toda execução, o seu eco suporta a melodia.
Natural de Chilembene, Gaza, já acompanhado por uma banda composta por um baixista, baterista, guitarra solo e vocalistas, incluiu no repertório Angelina.
“Esta música resulta de uma canção que cresci ouvindo em Chindeguele, só musiquei”, explicou Mucavel.
Enquanto a banda se apresentava com instrumentos “convencionais”, Mucavel ia trocando para os tradicionais que preparou. Assumia deste modo o lugar de conceptualista do som.
A canção narra o sofrimento de um homem no seu lar, nessa altura cantava, tocando Mbira.
O mestre da Timbila, Eduardo Durão e a sua banda, subiu ao palco, carregando os seus instrumentos de guerra, donde emitiu, cantando na sua língua chope, uma canção triste.
Ainda que as timbilas fossem acompanhadas pela guitarra baixo, piano, bateria e um coro, não perderam o blues de um homem que não sabia a quem pertenceria o seu coração, conforme narrava a voz de Durão.
O objevtivo era explorar novas possibilidades que os instrumentos oferecem, é neste sentido de Mucavel introduziu o chilofone.
Depois que a pequena orquestra do Durão se retirou, o etnomusicólogo voltou a cena com “Ndvoko”, instrumento que “é evolução de xindvokoko que só tinha uma cabaça é uma corda”, disse.

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F: Ouri Pota

Ele acrescentou uma cabeça e quatro cordas e sonoridades equivalentes se encontram no violino.
Ao palco ainda subiu o saxofonista Orlando Conceição, que emprestou as suas habilidades sobejamente conhecidas, até porque já há vários anos é professor de música.
Mas como que a provar que a máxima que rege a música experimental, segundo a qual “resultado não está previsto”, Mucavel convidou ao seu chefe de quarteirão, no bairro Costa do Sol, onde reside para tocar chitende.
O evento enquadra-se na celebração dos 40 anos de parceria entre Moçambique e Noruega.
 

IMG-20170326-WA0005Leonel Matusse Jr.

Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.

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