José Capela: Um historiador simples em pessoa

17405157_y6GtdCaracterizado como o mais simples, humilde, honesto e generoso, uma vez viajou de Portugal para Moçambique. Quando chega na pérola do Índico, nota a existência de vozes caladas. Eram os escravos do vale de Zambeze. Inconformado, buscou, através da escrita, dar voz a esses africanos silenciados, servindo como ponte para ligá-los ao mundo. Com sua dedicação e ânsia em escrever, conseguiu.


Texto: Pretilério Matsinhe
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Autor de várias obras, sobre tudo de investigação histórica moçambicana, José Soares Martins, ou simplesmente, José Capela, nasceu a 25 de Março de 1932 e faleceu a 14 de Setembro de 2014. Seus amigos, como forma de o homenagear, organizaram um colóquio e exposição, no instituto Camões, a decorrer entre os dias 11 a 25 de Fevereiro do ano em curso.

Formado em teologia no Porto, em Portugal, veio a Moçambique em 1956 onde desempenhou funções de sacerdote e jornalista. Escreveu na “Voz Africana”, “Diário de Moçambique” e “Revista Económica de Moçambique”.

Alguns escritores moçambicanos que tiveram um contacto com José Capela, lembram como era o historiador. Aurélio Rocha, também historiador, diz ter conhecido José Capela, e hoje, com muita facilidade  descreve-o-

“Era um homem honesto, a humildade abonava nele. Foi um verdadeiro mestre e um verdadeiro artista na história. Foi dos poucos que interpretou a sociedade moçambicana”. A dimensão humana nos personagens de José Capela era impressionante. Mas Aurélio Rocha acrescenta: “ele se tornou cativo da sua própria história”.

Moisés Mabunda, jornalista, também conheceu o homenageado, e sem dar muitas voltas, manifesta seu agrado: “foi meu primeiro editor. Só posso agradecer por ele ter sido meu grande amigo de longa companhia”.

Uma inspiração para muitos

José Capela, para além da simplicidade que o caracterizava, seus textos serviram de inspiração para muitos jornalistas e escritores. Mia couto, escritor moçambicano, conta que José Capela era um homem gentil, que seus rabiscos o influenciaram. “Algumas das coisas que me inspiravam eram os seus livros”. Para Mia Couto, ele vivia pelos outros. A vida dele foi, simplesmente, essa viagem para o outro lado do mundo, de padre para jornalista, ou de Portugal para Moçambique.

Considerado como homem de créditos firmados na imprensa, Aurélio Rocha, diz que a homenagem devia ter sido em vida, e que essa oportunidade já se perdeu. “Muito devia ser feito para o homenagear, uma vez tentamos com alguns amigos, mas algo deu errado”, lembra o historiador, que demonstra-se ser inconformado.

Um inteligente e facilitador

Nelson Saúte, que foi jornalista e agora escritor moçambicano, diz ter conhecido José Capela em vida. Hoje, tem a bondade de caracterizá-lo como um homem inteligente e que acima de tudo “ tinha uma liberdade enorme”. Quando se iniciava na escrita, Nelson conta como foi a relação que teve com o historiador. “Ele se abria connosco e ai a minha admiração por ele aumentava. Com ele, cultivei uma relação para além da literatura, era como se fosse meu amigo”, relata.

 Um homem solidário, que apoiava os estudantes, Jorge oliveira jornalista e ex-presidente de Associação Moçambicana de Língua Portuguesa, diz que conheceu Capela quando tinha 21 anos, em 1992.

Para Oliveira, Capela era uma “espécie dum fantasma, falava pouco e fazia as coisas acontecerem. Parecia não estar presente, enquanto prestava atenção”, conta.

Na década 90, a obtenção de jornais portugueses em Moçambique não era uma tarefa fácil, nas com a ajuda de Capela, tornou se possível:

“Ele facilitava a aquisição dos jornais portugueses como o Público, Jornal de Letras, o Expresso e tantos outros. Resolvia os nossos problemas e buscava sempre a liberdade”, conta.

Capela notabilizou-se na história moçambicana, ao investigar e escrever sobre o comércio de escravos. É autor de livros como o Tráfico de Escravos nos Portos de Moçambique, a República Militar da Maganja da Costa, Memoria sobre a Província de Moçambique e tantos outros.

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