Por: Pedro Pereira Lopes
Gérsia tinha vinte anos e muito brilho nos olhos, quando conheceu o amor. Naquele ano, quase conheceu ainda a morte. Numa tarde de verão, e porque o mar parece ser mais mar nas praias de Inhambane Céu, ela juntou-se ao grupo de amigos que ia à praia. E porque a natureza compartilha, estavam lá outras pessoas e, em particular, uma mulher hindu, que se ofereceu para ler as linhas das mãos da moça. Gérsia tinha vinte anos e estava apaixonada, quando a mulher, que lia palmas e sonhava a sina, disse-lhe que morreria com vinte e dois.
Vinte e dois anos? Que injustiça, disse a Gérsia.
Durante o resto da tarde, não houve mais sol ou mar, houve apenas tempo para pensar no amor. Vinte e dois não era tempo para morrer, era tempo para viver, viver tudo
e o amor ainda mais.
Quando chegou a casa, contou as suas intenções à mãe:
Nasci e cresci no mar, vou procurar terra firme. Vou amar para longe.
A mãe, que ouvia a tudo com uma calma de clarear de inverno, levantou-se e, antes de virar-lhe as costas para ir ver uma panela que começava a entornar, disse: Olha que eu te mostro a morte!